É a primeira vez que um gigante gasoso é descoberto orbitando estrelas tão massivas e quentes; até então, nenhum planeta havia sido detectado em sistemas com mais de três massas solares
Por Marcella Duarte
Super Júpiter: cientistas encontram planeta gigante com dois sóisImagem: ESO Janson et al
Um enorme planeta, com cerca de 11 vezes a massa de Júpiter, foi descoberto cerca de 325 anos-luz da Terra. Além do tamanho, chama a atenção que esteja em um lugar inóspito: um sistema binário com duas estrelas também imensas. Na teoria, ele nem deveria existir lá.
O planeta "b Cen (AB)b" fica na constelação do Centauro e é classificado como "Superjúpiter" — um gigante gasoso, composto principalmente por hidrogênio e hélio, como o maior planeta do nosso Sistema Solar. Ele orbita o par de estrelas "b Centauri", que juntas possuem uma massa de seis a dez vezes maior que a do nosso Sol. A mais brilhante tem uma temperatura de superfície estimada em 18.000°C (a do Sol é 5.500°C).
Elas "formam um ambiente bastante destrutivo e perigoso, a ponto de ser considerado muito difícil para grandes planetas se formarem ali", explica o astrônomo Markus Janson, da Universidade de Estocolmo, na Suécia, principal autor do estudo publicado na revista Nature.
As estrelas "b Centauri" são gravitacionalmente presas uma à
outra, em um chamado sistema binário - que pode ser visto a olho nu daqui. Em
torno delas, a uma distância cerca de 560 vezes a da Terra ao Sol, o planeta
"b Cen (AB)b" tem o que pode ser a maior órbita já conhecida: 100
vezes mais ampla que a de Júpiter.
É a primeira vez que um gigante gasoso é descoberto orbitando estrelas tão massivas e quentes; até então, nenhum planeta havia sido detectado em sistemas com mais de três massas solares. Estrelas deste porte emitem tanta radiação que acreditávamos impedir o processo de formação planetária. Ou seja, a notícia coloca em xeque nosso conhecimento sobre onde mundos podem existir ou não.
"A formação planetária parece ser um processo incrivelmente
diversificado. Ela superou nossa imaginação muitas vezes no passado e
provavelmente continuará a fazê-lo no futuro", completa Janson.
Formação - Um planeta começa a surgir a partir de nuvens de poeira e gases, como discos, que vão sendo atraídas e movimentadas pelas forças gravitacionais de jovens estrelas. No caso do "b Cen (AB)b", em um ambiente hostil, com tanta radiação de alta energia, não deveria haver matéria suficiente para formar um núcleo rochoso - a luz "sopra" e evapora a matéria ao seu redor.
Outros processos podem ter entrado em ação. O planeta pode ter formado
seu núcleo a uma distância suficientemente grande do par de estrelas, ou então
por um fenômeno de instabilidade gravitacional, em que parte da nuvem de poeira
repentinamente desaba sobre si mesma.
O sistema pode ser jovem, com "apenas" 15 milhões de anos, mas já está estabelecido - para efeitos comparativos, nosso Sol tem 4,5 bilhões de anos. Por isso, não temos como observar o processo formativo. Mas há muito mais o que se estudar sobre o enorme e misterioso planeta. Na próxima etapa da pesquisa, a equipe internacional de Janson buscará conhecer sua composição química, que pode nos oferecer novas teorias e respostas.
O estudo usou dados do Very Large Telescope, em Paranal, no Chile, e seu instrumento SPHERE (Spectro-Polarimetric High-contrast Exoplanet REsearch), um caçador de exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar). As observações foram feitas entre março de 2019 e abril deste ano. De acordo com os pesquisadores, por estar tão distante, enxergar o objeto era como encontrar uma única luzinha de Natal em meio a um estádio de futebol totalmente iluminado.
Nas buscas para confirmar que o planeta estava de fato em órbita ao redor das estrelas "b Cen", os cientistas descobriram que ele já havia sido observado, mas não identificado, em 2000, por um pequeno telescópio. A comparação com as imagens de mais de 20 anos atrás comprovou o movimento.
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