Número inclui desabrigados e desalojados de 502 cidades que decretaram emergência. País já soma ao menos 457 mortes
Por R7
Falta de verbas dos municípios e
ocupações irregulares aumentam o problema
SERGIO MARANHAO |
Os deslizamentos, alagamentos e enxurradas causados por chuvas no Brasil — que marcaram a mais recente tragédia nacional em Pernambuco — desabrigaram pelo menos 37.938 brasileiros e desalojaram outros 194.148 de suas casas em 22 estados até maio deste ano. A diferença entre as duas categorias é que os desabrigados são aqueles que não têm para onde ir e dependem de abrigos públicos.
Além da população que teve de sair do
lar, de forma definitiva ou momentânea, 1.530.494 pessoas foram prejudicadas
pelas chuvas em 502 municípios que decretaram estado de emergência ou
calamidade pública. Desses decretos, 138 foram reconhecidos oficialmente pelo
governo Bolsonaro.
Os dados foram levantados e analisados pelo R7 com base no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, do Ministério do Desenvolvimento Regional, que recebe diariamente informações dos municípios brasileiros sobre os efeitos de fenômenos naturais.
Os estados mais afetados do Brasil estão na região Norte e Nordeste, com destaque para o Pará, Amazonas e Maranhão. Na região Sudeste, Minas Gerais também aparece entre os mais danificados. Os dados de 2022 do sistema não ilustram o caos na Bahia no início do ano, porque o cenário visto na região no começo de janeiro, com 26 mil desabrigados e 65 mil desalojados, foi causado por temporais do fim do ano anterior.
Mortes
Com apenas 36 casos registrados, o sistema também está subnotificado em relação ao número de mortes causadas pelas chuvas. Desde a última semana, os temporais em Pernambuco já contabilizaram 128 vítimas, e o ano foi marcado por outros desastres históricos, como o de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e casos em Minas Gerais e São Paulo.
Segundo levantamento da CNM (Condeferação Nacional dos Municípios), esses episódios somados mataram pelo menos 457 pessoas em 2022 — o equivalente a 25% do total dos últimos dez anos.
A meteorologista da FieldPRO Dóris Palma afirma que as características no clima deste ano explicam em parte os números, principalmente no caso do Amazonas, que tem o aumento das chuvas e inundações de rios por conta do fenômeno La Niña. O mesmo evento pode explicar a dimensão do temporal no Recife.
"É importante ressaltar que todos esses desastres são causados por altos volumes de chuva em um curto espaço de tempo, como foi o caso de Petrópolis, Recife, e todo ano acontece também em Minas Gerais", completa.
O perfil das vítimas segue o mesmo em todas as regiões: pessoas pobres que, por conta da falta de moradia, ocupam áreas de risco para deslizamentos e enchentes. "Essa ocupação antrópica desordenada piora o escoamento de água superficial, altera a geometria das encostas, aumenta o nível de infiltração da água de chuva e coloca sobrecargas nas próprias casas", explica o engenheiro geotécnico e professor da Universidade Mackenzie Paulo Afonso Luz.
"A maioria das prefeituras não possui recursos suficientes para implantação de uma política de prevenção contra a ocorrência de escorregamentos de encostas. Somente as prefeituras mais ricas e também as cidades que já possuem um histórico de problemas."
Junto ao problema habitacional também pesa a falta recursos aos municípios menores para fiscalizar as áreas de risco, que mudam constantemente de acordo com os despejos e novas ocupações formadas. Segundo o último levantamento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), de fevereiro deste ano, cerca de 9,5 milhões de brasileiros moram nesses locais.
"O pior problema é toda a cadeia
funcionar. É o mapa ser feito, o alerta ser emitido e o município que aponta lá
— quando receber o alerta do Cemaden — conseguir agir a tempo. E a fiscalização
é fundamental, as áreas de risco são criadas a cada dia se deixar", conta
Tiago Antonelli, pesquisador em Geociências do Serviço Geológico do Brasil,
ligado ao Ministério de Minas e Energia.