No dia do Grito, Dom Pedro não estava montado em um belo cavalo, e muito menos vestido com pompa, mas sim em trajes cobertos de lama e montado em uma mula
Por Manoelzinho Canafístula/1822
Local onde foi dado o Grito da Independência na visão de Pedro Américo - Foto: Divulgação
O ano de 1822 foi imortalizado na
história do Brasil, porém, para que possamos entender o que acontece na
história política do Brasil atual, se faz necessário um mergulho profundo nesse
passado sombrio e repleto de escárnios culturais, sociais e éticos. As publicações especiais da semana da pátria, embora longas e enfadonhas, são necessários
para sacudir a indolência do povo e despertá-lo para a realidade que vivemos,
não podemos mais viver de fantasias, diante do mais sombrio e temeroso capítulo
de nossa história, afinal um novo Dom Pedro pode surgir no cenário político e
todos acharem que ele é o maior exemplo de honestidade, virtude e de caráter.
Acorda Brasil, o teu gigante ainda dorme como em bebê recém-nascido.
Nosso objetivo primordial é o de apresentar a história do Brasil de uma perspectiva bem diferente dos livros didáticos e de tudo aquilo que aprendemos ao longo dos tempos. É preciso, por exemplo, descobrir como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro, ajudaram D. Pedro I a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado.
Depois de terem sido expulsos por Napoleão Bonaparte em 1808 e após recolher até a última moeda dos cofres brasileiros, Dom João e a família real retornaram a Portugal e deixaram seu filho, o príncipe Pedro de Alcântara, como regente do Reino do Brasil. No entanto, os membros da Corte Portuguesa não mostravam respeito para com o príncipe-regente no Brasil e há tempos encorajavam o retorno de D. Pedro I a Portugal, pois pretendiam recolonizar o Brasil e a presença do príncipe impedia este ideal.
Dom Pedro I do Brasil (D. Pedro IV de Portugal) não acatou as determinações feitas pela Coroa Portuguesa, negando ao chamado para retornar a capital portuguesa, afirmando que ficaria no Brasil. “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico”. Após o dia conhecido como Dia do Fico, Pedro I tomou uma série de medidas que desagradaram à metrópole com o objetivo de preparar o país para o processo de independência, entre elas: Organizou a Marinha de Guerra; Obrigou as tropas de Portugal a voltarem para o reino; Convocou uma Assembleia Constituinte; Determinou que todas as medidas tomadas pela Coroa Portuguesa deveriam, antes de entrar em vigor no Brasil, ter sua aprovação.
Assim, ao realizar uma viagem a Minas Gerais e a São Paulo para assegurar a lealdade à causa brasileira, sua esposa, a Imperatriz Maria Leopoldina, assumiu a regência do país. Foi diante das exigências para que ambos retornassem à Lisboa, que Leopoldina convocou uma sessão extraordinária do Conselho de Estado decidindo pela separação definitiva entre os Reinos Brasil e Portugal.
Durante a viagem, D. Pedro recebeu uma nova carta de Portugal, informado que as Cortes tinham anulado todos os atos do gabinete de José Bonifácio (O Patrono da Independência) e removido o restante de poder que ele ainda tinha. Estas notícias chegaram às mãos de Dom Pedro I quando ele viajava de Santos para São Paulo. Diante desta situação, próximo ao riacho do Ipiranga, levantou sua espada e deu o grito histórico: “Independência ou Morte!“.
Este fato ocorreu no dia 7 de setembro de 1822 e marcou a Independência do Brasil. No livro “1822”, do jornalista e escritor Laurentino Gomes busca apresentar o cenário mais real deste acontecimento, desconstruindo o mito que cerca o ato da proclamação da Independência.
Na obra ele afirma que a cena não foi tão pomposa da forma que é descrita nos livros de história. Quando declarou a independência, Dom Pedro não estava montado em um belo cavalo, e muito menos vestido com pompa, mas sim em trajes cobertos de lama e montado em uma mula – que era na época o meio de transporte mais utilizado para transportar cargas nas regiões remotas do país.
Ainda segundo o autor, foi assim que começou a se formar um Brasil independente, que tinha tudo para dar errado, devido ao alto número de escravos, analfabetos e, principalmente, pela imensidão do território. E hoje? O que está dando errado no Brasil de 2021? Aparentemente não temos mais escravos há mais de 130 anos; ainda há analfabetos, especialmente os analfabetos políticos, o Brasil ainda continua um gigante em extensão territorial.
Outro mito que envolve o episódio é a propagação de que a independência brasileira foi pacífica. Apesar de boa parte do país aceitar e comemorar o grande feito de D. Pedro I, em algumas províncias, principalmente na região Nordeste, ocorreram manifestações e revoltas, organizadas por portugueses, que não queriam a ruptura com Portugal.
A obra aborda ainda a movimentada vida amorosa do imperador do Brasil. Apesar de ser casado com a Imperatriz Leopoldina, Dom Pedro I mantinha diversas aventuras extraconjugais, resultando no nascimento de vários filhos bastardos, parte era desconhecida para a maioria das pessoas.
Contudo, Pedro tinha uma amante “pública”, responsável por grandes escândalos envolvendo a família real brasileira. Além de ser nomeada como dama de companhia da imperatriz, Domitila era mãe de uma filha bastarda do imperador.
Tais acontecimentos foram
responsáveis pelo abalo moral e psicologicamente de Leopoldina, que logo veio a
falecer com apenas 29 anos e nove anos após sua chegada ao Brasil. Com a morte
da imperatriz Leopoldina, Dom Pedro I sentiu-se culpado e abandonou a relação
com Domitila de Castro, a Marquesa de Santos.
Após ficar viúvo, casou-se com Amélia Augusta Eugênia Napoleona, que tornou-se a segunda Imperatriz brasileira, com quem permaneceu até o fim de sua vida. Apesar de revelar um personagem promíscuo, o livro “1822” apresenta um cenário mais real e uma figura mais humanizada do responsável pelas mudanças que ocorreram no Brasil e, mais tarde, em Portugal, quando retornou para disputar a coroa com seu irmão D. Miguel.
Publicada em 2010, a obra é fruto de um intenso trabalho de reportagem, pesquisas e estudos do escritor e jornalista brasileiro Laurentino Gomes, que construiu um verdadeiro mosaico de toda história entre Brasil e Portugal, através de uma trilogia 1808, 1822 e 1889.
No ano de sua independência, o
Brasil tinha, de fato, tudo para dar errado. De cada três brasileiros, dois
eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população
pobre e carente de tudo, que vivia à margem de qualquer oportunidade em uma
economia agrária e rudimentar, dominada pelo latifúndio e pelo tráfico
negreiro. O medo de uma rebelião dos cativos assombrava a minoria branca. O
analfabetismo era geral.
De cada dez pessoas, só uma sabia ler e escrever. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes (aquele que não tem conhecimento das coisas). O isolamento e as rivalidades entre as províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na divisão do território, a exemplo do que já ocorria nas vizinhas colônias espanholas.
Para piorar a situação, ao voltar a Portugal, em 1821 — depois de 13 anos de permanência no Rio de Janeiro —, o rei D. João VI havia raspado os cofres nacionais. O novo país nascia falido. Faltavam dinheiro, soldados, navios, armas e munição para sustentar a guerra contra os portugueses, que se prenunciava longa e sangrenta. As perspectivas de fracasso, portanto, pareciam bem maiores do que as de sucesso. No livro é possível encontrar algumas das explicações de como o Brasil conseguiu manter a integridade do seu território e se firmar como nação independente por uma notável combinação de sorte, acaso, improvisação, e também de sabedoria de algumas lideranças incumbidas de conduzir os destinos do país naquele momento de grandes sonhos e perigos.
No retrato dos personagens encontramos Dom Pedro I, do Brasil: um príncipe e primeiro imperador do Brasil, que morreu jovem e ajudou a mudar a face do mundo em sua curta e intensa trajetória; Dona Leopoldina, a princesa triste, primeira esposa de D. Pedro I; Dona Amélia: segunda esposa do imperador D. Pedro I e Imperatriz Consorte do Império do Brasil; a Marquesa de Santos, nobre brasileira, amante de Dom Pedro I, que lhe conferiu o título nobiliárquico de marquesa.
Domitila de Castro, a mais famosa amante de D. Pedro I; o notável José Bonifácio de Andrada e Silva, o homem sábio; e o Lord Cochrane, o escocês que era louco por dinheiro.
O escritor e jornalista, Laurentino
Gomes, produziu três títulos literários para desenvolver toda a história do
Brasil. Os três livros são intitulados com datas de fatos que marcaram definitivamente
nossa história: Em “1808” obra que foi publicada em 2008, conta a história da
vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil; Já “1889”, que foi publicado em
2013, ele explica porque a monarquia caiu tão facilmente. Laurentino já trouxe
sua mais nova trilogia, desta vez sobre a Escravidão, que já está em seu
segundo volume. Esta leitura é obrigatória, para que possamos entender, o
passado, presente e o futuro na nação e do povo brasileiro.
Faça essa viagem sem precisar: fazer malas, de hospedagem em hotéis ou pousadas e com um custo muito menor do que se possa imaginar e depois se prepare para ser o autor de sua própria história. Viva o Brasil, a Terra dadivosa, que sempre esteve ao lado da felicidade da vida.