Um funcionário falou que é obrigado a fazer as
necessidades fisiológicas em um "chiqueiro", uma vez que não há água
nos banheiros, não tendo nem como lavar as mãos no local, cuja reforma está
paralisada há três anos
Por Manoelzinho Canafístula com Informações do Sobral Online
Carteiras abandonadas mostram a decadência do CCH da UVA de Sobral - Foto: Reprodução Professores
universitários denunciam o completo abando do Campus da Universidade Estadual
Vale do Acaraú (UVA), onde funciona o Centro de Ciências Humanas (CCH) no
bairro Junco na cidade de Sobral. Segundo uma placa amarelada pelo tempo, a
obra de reforma teve início em fevereiro de 2019, custou quase R$ 800 mil reais
e deveria ter sido concluída em 180 dias, após quase três anos do início dos
trabalhos, o prédio está completamente abandonado, decadente e com um imenso
acervo que conta a história da região, do Ceará e do Brasil dos séculos 18 ao
21.
Segundo o professor de Ciências Sociais Joannes
Paulus Silva Forte, há uma reivindicação junto a administração superior da
universidade e que o Governo do Estado do Ceará, tomem as providências e
impedir que o abandono e o descaso com a estrutura do campus do CCH em Sobral.
Ainda segundo o professor, o campus do Junco, atualmente é um dos espaços da UVA
em situação mais precária, “aqui nós não temos só sujeira e folhas, aqui nós
temos uma obra civil abandonada, uma obra também de eletrificação abandonada,
uma biblioteca que também está lá com suas estruturas comprometidas, temos aqui
um núcleo que é ligado ao curso de história, com documentação do século 18, é
uma documentação rara e que precisa de todo um cuidado”,
ressaltou.
Professor de Ciências Sociais Joannes Paulus Silva Forte - Foto: Reprodução
O professor enfatizou ainda, que o curso de
história é outro cenário de tristeza e que o local é patrimônio público material
e intelectual do Estado do Ceará e da sociedade cearense, falou ainda que a UVA
já tem mais de 50 anos, e foi fundada em 1968 como uma Universidade Municipal.
Em 1984 ela foi transformada em uma autarquia estadual e passou a ser uma
universidade estadual. O professor falou ainda, que além do abandono e do
descaso há um grande prejuízo com os recursos públicos jogados fora, “são recursos
públicos que estão sendo desperdiçados, perdidos na verdade, começou a se fazer
uma reforma no ano de 2019, por exemplo, veja que a obra ficou com os fios do
lado de fora, o que foi que fizeram pintaram e tentaram colocar umas calhas
para passar os fios elétricos e fizeram outros reparos aqui e acolá e abandonaram
a obra”, destacou.
Contingenciamento
de recursos - Segundo o professor a obra foi
contingenciada pelo governo, “o governo contingenciou recursos que eram
voltados para esse campus, os colegas estão aqui, as professoras e professores
sabem que nós temos aqui, recursos inicialmente prometidos para se fazer um novo
CCH. É isso que chamavam novo CCH? Nós tínhamos a promessa de um novo bloco
didático com salas, nós não temos salas especiais para os nossos alunos, está
muito pior do que antes”, ressaltou.
Documentos
ensacados - Os professores ressaltam que estão unidos,
pois querem o CCH de volta e totalmente recuperado. Já o professor Doutor em
História Tito Barros Leal diz que existem equipamentos que são de fundamental
importância para os alunos durante o semestre, pois além de ter o prédio físico,
há materiais de grande importância, que inclusive são do século passado, material
histórico que preservam a identidade do próprio centro, “aqui é o espaço onde
as pessoas, os professores e estudantes se identificam como cientistas das
ciências humanas, ainda existem aqui, alguns equipamentos como por exemplo, o Núcleo de Estudos e Documentação de História (NEDHIS), esse espaço que guarda uma documentação de suma importância para as pesquisas
históricas aqui da região Norte e Noroeste do estado do Ceará, é um arquivo
importantíssimo com documentos do século 18, 19, 20 e 21. Documentos de vários
tipos, cartoriais, documentos periódicos da imprensa e uma sorte grande de documentação
que tá aqui lacrada, fechada em um arquivo deslizante para tentar se preservar de
alguma forma”, disse.
Professor Doutor em História Tito Barros Leal - Foto: Reprodução
Preservação de
Documentos - O professor Tito chamou a atenção
para outro problema sério, que a documentação do CCH carece de cuidados
técnicos específicos e de manutenção constante, falou ainda, que os documentos
estão ensacados desde Janeiro desse ano e isso impossibilita inclusive, que pesquisadores
do Brasil, Portugal, Estados Unidos e de outras partes do mundo tenham acesso
ao acervo. Falou ainda de um espaço que está com as estruturas comprometidas,
entre elas a que abriga o acervo, “o espaço mina água quando chove, entra água
pelo chão e a estrutura do teto está cedendo, disse que o prédio precisa de uma
reforma de fato qualificada, efetiva e técnica”, destacou.
Proteção contra
incêndio - Destacou ainda que a edificação não possui
proteção contra incêndio, “o que mais tem acontecido nesse país são incêndios
em espaços de documentação, aqui não temos proteção contra incêndios, temos
aqui uma fiação exposta, não sei se está ligada. Não temos controle de pragas,
portanto o nosso controle de pragas são esses gatos que estão soltos aqui, e
que tomaram conta do Centro e graças a Deus, protegem (os documentos) contra os
ratos, que podem danificar as nossas documentações, então tá muito difícil a
situação”, desabafou.
Muro - Outro local afetado é o muro que faz muito tempo que desabou e está somente com tapumes tampando alguns buracos, o que facilita a entrada de
vândalos e ladrões. Ainda segundo o professor o prédio já funcionou como a Casa
da Geografia, “é um prédio antigo esse imóvel, na verdade pertencia
inicialmente ao DNOCS e funcionou como a Casa da Geografia e nos anos de 1990 foi criado o Centro de
Ciências Humanas e daí foram trazidos para cá, o curso de história, Ciências Sociais
e entre 1997/98 funcionaram esses três cursos de graduação e também os cursos
de mestrado acadêmico em geografia e o mestrado profissional de sociologia em rede
nacional”, destacou.
Muro desabou e tapumes foram colocados no local - Foto: Reprodução
Biblioteca - Outro setor importante é a biblioteca, alguns livros foram removidos para a biblioteca central da UVA e alguns
ficaram no CCH, porém até a porta fica aberta como mais um sinal de abandono.
Há dois funcionários terceirizados que não possuem um ventilador e nem sequer água para beber e para nenhuma
outra utilidade. O prédio também não dispõe de boa parte da rede de energia
elétrica, “boa parte do campus está no escuro de noite que fica escuro e fica
claro é um alvo fácil para depredação do sistema de segurança já que não tem
energia, mas a sociedade tem que saber que realmente o campus está entregue às
traças”, desabafou.
Vandalismo - Ainda durante a visita dos professores com a equipe
do Sobral Online, o grupo de docentes formado por diretores da SINDIUVA, integrantes da base do sindicato e
professoras(es) do Centro, falaram com um funcionário e com um segurança, ambos
trabalhadores terceirizados. Eles relataram situações gravíssimas ligadas ao
abandono do campus e da obra. Falaram sobre a ocorrência de troca de tiros
entre possíveis ladrões e PMs no CCH.
Roubos e Furtos - Um funcionário falou que é obrigado a fazer as
necessidades fisiológicas em um "chiqueiro", uma vez que não há água
nos banheiros, não tendo nem como lavar as mãos no local. O colaborador disse
que já foi abordado por 3 pessoas armadas que invadiram o CCH; que os homens
sempre invadem o CCH; que já furtaram muitas coisas de lá; que, além dessas
pessoas que já levaram vários objetos do CCH, os próprios funcionários da
empresa contratada para a reforma furtaram muita coisa, como linhas de madeira,
fios elétricos e eletro dutos.
Relatou, ainda, que ele e o segurança vivem com
medo de que aconteça coisa pior com eles. O funcionário foi contratado para ser
auxiliar operacional por uma empresa terceirizada. “Ele não é, nem nunca foi
prefeito do Campus. Não há prefeito! Inclusive, os dois trabalhadores que a
gestão da universidade enterrou lá estão tão abandonados quanto o CCH”.
Disseram os professores.
Fiação Solta em vários setores do prédio - Foto: Reprodução
A Universidade Estadual Vale do Acaraú ainda não se manifestou sobre o caso. A Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ainda não respondeu aos questionamentos feitos via Ouvidoria Geral do Governo do Estado.
Em nota o SindiUVA falou do abando e do descaso no CCH, confira o
documento na Íntegra.
O Sindicatos dos Docentes da Universidade Estadual Vale do Acaraú –
SindiUVA, Seção Sindical do ANDES – Sindicato Nacional, vem a público denunciar
e cobrar providências das autoridades públicas responsáveis pelo sucateamento
da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e pela situação de abandono do Centro
de Ciências Humanas (CCH) – campus do Junco, na cidade de SobralCE, que tanto
entristecem, revoltam e indignam a Sociedade Cearense.
O CCH-UVA está sediado no campus do Junco, que se localiza na cidade de
Sobral-CE. Há anos, o campus precisa de uma grande reforma, reivindicação
histórica do movimento docente, SindiUVA, movimento discente, Diretório Central
dos Estudantes (DCE) e comunidade acadêmica em geral, que foi pauta importante
de greves e mobilizações ocorridas na última década. Depois de muitas lutas
pelo que deveria ser o “Novo CCH”, finalmente, a reforma conquistada foi anunciada
pelo governo Camilo Santana. Porém, desde fevereiro de 2019, após quase 3 anos
do início da reforma que deveria ter durado 180 dias, conforme placa da obra no
local, o campus está totalmente abandonado.
No CCH, não há água para a higiene, nem para beber. Durante o dia, há
dois trabalhadores que ficam no campus: um segurança e um outro terceirizado
que estão lá em condições absolutamente precárias de trabalho. Não há sequer um
ventilador para os guardas que se revezam (um por dia) no local. Parte do muro
lateral desabou. Só há energia em uma parte do conjunto dos prédios, deixando o
campus quase que totalmente no escuro à noite. Os equipamentos de trabalho, a biblioteca
e seu acervo e os documentos raros, muitos deles do século XVIII, estão sendo
corroídos pelas intempéries, pelo abandono e pelo descaso.
Conclamamos a toda a Sociedade Cearense para que apoie a luta pela UVA,
especialmente pelo CCH, que está em ruínas e abandonado pelas autoridades
públicas responsáveis pela obra inacabada e pelos danos causados ao Patrimônio Material
e Intelectual do Estado do Ceará.
Em defesa da Educação e da Universidade Pública, da UVA e do CCH: reitor
Fabianno e governador Camilo Santana, queremos o CCH-campus do Junco de volta e
totalmente recuperado!
Exigimos PROVIDÊNCIAS, JÁ!