Diário do Nordeste
A
escavação para resgatar a ossada da baleia cachalote, em Aquiraz, será iniciada
no próximo dia 27 Foto:
PMM / Acervo Aquasis
Uma
das maiores tragédias recentes do Brasil transformou em pó grande parte da
nossa História: o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, instituição
que queimou durante seis horas na madrugada do dia 2 de setembro de 2018.
Também naquele ano, sem mês exato, uma baleia cachalote era enterrada na Praia
de Barro Preto, no município de Aquiraz, no Ceará. Neste mês, os dois episódios
se encontram: o esqueleto do animal encontrado no litoral cearense será uma das
peças do museu carioca, quando reaberto.
A
cachalote vai "substituir", simbolicamente, o esqueleto de uma
jubarte antes exposto no Museu Nacional. A ossada do cetáceo era a mais antiga
do Brasil, havia sido montada há cerca de 100 anos, e foi um dos milhões de
itens perdidos após as chamas atingirem a construção. De acordo com o biólogo
cearense Antônio Amâncio, ex-coordenador da Organização Não Governamental (ONG)
Aquasis, que integrou a equipe responsável por enterrar a baleia no litoral do
Ceará, o animal tinha cerca de 9 metros.
"É
feito todo esse procedimento padrão para os animais que encalham, enterrar é
importante, porque há o risco de zoonoses se deixarmos a carcaça na praia.
Coletamos informações como as coordenadas geográficas, para fazer o histórico
do encalhe do animal, e enterramos. Agora, nós recebemos esse pedido do Museu
Nacional e a Aquasis cedeu o material para eles", informa Amâncio, que
integrará também a equipe responsável por localizar o esqueleto.
A
escavação para resgatar a ossada da baleia cachalote será iniciada no próximo
dia 27, com participação de um grupo de pesquisadores do Museu Nacional do Rio
de Janeiro. O grupo contará ainda com o suporte da Aquasis. A previsão de envio
do animal para terras cariocas é outubro deste ano.
Outra
integrante da equipe é Renata Stopiglia, bióloga, pesquisadora da Universidade
Estadual do Ceará (Uece), e responsável pelo projeto de implantação do Museu
Regional de História Natural do Estado, do campus da Uece em Pacoti, em
parceria com o Museu Nacional. "Nessa missão, acabo me envolvendo em
outros afazeres. O desenterro da baleia aqui faz parte da composição de um
acervo novo que está sendo coletado para o Museu Nacional pós-incêndio",
pontua.
Símbolo
Conforme Renata, a equipe da Aquasis, incluindo Amâncio, será responsável pela limpeza do esqueleto "cearense" para envio ao Rio, uma contribuição simbólica para repor a História perdida com as chamas. "Todo o acervo da área zoológica foi perdido. A baleia (jubarte) fazia parte desse acervo perdido. E para a reabertura do Museu Nacional, planejada para 2022, se deseja muito que uma baleia retorne para a exposição. Além da importância científica, de as pessoas conhecerem a biodiversidade que nos rodeia, existe um simbolismo de estar trazendo de volta não só o Museu Nacional que existia, mas também esse processo de renovação. A baleia é um símbolo muito importante", frisa.
O
antigo esqueleto esteve exposto por mais de 50 anos. De acordo com o diretor do
Museu Nacional, Alexander Kellner, a nova "peça" do acervo ficará
suspensa no teto da construção refeita, e será a primeira baleia cachalote a
integrar a exposição. "O Museu está custeando essa expedição com a ajuda
da Associação Amigos do Museu Nacional. Fica em torno de R$ 50 mil, incluindo o
trabalho de desenterrar, descarnar e branquear os ossos. Só depois vem a fase
de montar", detalha.
Segundo
Kellner, a ossada deve chegar ao Rio de Janeiro daqui a cerca de oito meses. A
expectativa é de que o Museu seja parcialmente aberto em 2022, com parte do
acervo exposto. A reabertura completa deve acontecer em 2025.