Diário
do Nordeste
Na
prática, apesar da frequente menção a um "banco de talentos", o
governo Bolsonaro se rendeu ao loteamento político Foto: Agência Brasil
O
governo rejeitou quase metade das indicações políticas feitas até agora para o
preenchimento de cargos federais, apesar de ter acelerado a distribuição das
vagas, desde julho, para votar projetos de seu interesse no Congresso, como a
Previdência, informa o jornal O Estado de S Paulo.
Levantamento
obtido pelo jornal revela que, dos 1.061 pedidos de nomeações apresentados por
deputados e senadores, 430 (40,52%) foram vetados, 324 aceitos e outros 307
ainda estão sob análise
O
partido mais favorecido foi o PSD (154 cargos) do ex-ministro Gilberto Kassab,
hoje secretário licenciado da Casa Civil no governo de João Doria, seguido pelo
DEM (107) do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ambos do bloco partidário
conhecido como Centrão. Nos últimos dias, esses partidos ameaçaram paralisar
votações na Câmara, caso o Palácio do Planalto não liberasse cargos nem pagasse
emendas prometidas.
Sob o
título "Nomeações, Revisões e Modelagem", as planilhas em poder do
ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, mostram indicações
políticas feitas em um universo de 10 446 cargos de Direção e Assessoramento
Superior (DAS) em vários Estados. A lista inclui Incra, Funasa, ministérios da
Saúde e da Agricultura, Ibama, Dnocs e Codevasf, por exemplo.
A
falta de indicações leva a um grande número de cargos vagos. Há cerca de 15 mil
vagas para preencher em universidades, 8 mil destinadas exclusivamente a
servidores, 1 mil em autarquias, 15 em empresas no exterior, 89 de natureza
especial - como as de secretário executivo - e outras em estatais. Só no Rio há
43 empresas públicas e 1.020 postos em conselhos.
Na
prática, apesar da frequente menção a um "banco de talentos", o
governo Bolsonaro se rendeu ao loteamento político, na tentativa de construir
sua base de sustentação no Congresso. Depois do divórcio litigioso com o PSL,
Bolsonaro perdeu o apoio de um dos partidos mais fiéis ao Planalto.
Ramos
disse, porém, que não há toma lá, dá cá. "Esse processo de nomeações é
criterioso, segue a transparência pública e não escondemos nada. Foi tudo
mapeado", afirmou o ministro, responsável pela articulação do Planalto com
o Congresso.
Nessa
"investigação", que inclui o monitoramento das redes sociais, o
governo descobriu "indicações cruzadas" de parlamentares, mas ainda
tenta identificar os padrinhos das nomeações. "Às vezes, o senador tem
cargo e não quer mais se expor. Então, pega um deputado do Estado dele para
pedir o cargo", disse Ramos.
Pente-fino
De
acordo com Ramos, 430 vetados não passaram pelo pente-fino do governo porque
não se enquadravam no perfil desejado. O Sistema Integrado de Nomeações e
Consultas é uma plataforma que traz informações de toda ordem, até mesmo sobre
denúncias e processos judiciais.
"De
vez em quando há uma chiadinha aqui, outra ali, mas o problema é que alguns
indicados não passam. Não dá para um veterinário ir para a direção do
Dnit", argumentou o ministro, em uma referência ao Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes.
Em
reunião realizada no último dia 20, Ramos foi cobrado por deputados do Centrão.
O líder do Republicanos, Jonathan de Jesus, e o do PL, Wellington Roberto,
reclamaram não só de cargos como das emendas represadas. "Podem tirar os
cargos que não quero nada. Podem demitir todo mundo", esbravejou Roberto,
acompanhado por Jonathan. "Foi uma reunião tensa e, de certa forma,
desagradável, mas eu disse que minha palavra eu honraria", declarou o
ministro Ramos.
Planilhas
Ramos
afirmou que, na passagem do governo de Dilma Rousseff para Michel Temer, as
informações contidas no banco de dados foram apagadas. Na gestão Temer, o então
ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, produzia planilhas detalhadas sobre
votações e cargos, mas, de acordo com a Secretaria de Governo, esses documentos
não foram repassados. "Estamos fazendo aqui a revisão de todas as funções
e cargos. É um trabalho de chinês", declarou
Eduardo Daleyson Viana De Sousa