Os Três Guardiões: 2020-04-26

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sábado, 2 de maio de 2020

Bolsonaro faz ameaça a ministro que não aceitar ceder cargos para Centrão


Dois sinais já haviam sido dados aos ministros: a demissão de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e declarações sobre distribuição de cargos

Por Matheus Simoni 

[Bolsonaro faz ameaça a ministro que não aceitar ceder cargos para Centrão]
Foto : Marcos Corrêa/PR

Em negociações com líderes partidários do chamado Centrão, o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) reiterou nos últimos dias a possibilidade de demitir ministros que venham a resistir em ceder cargos de suas pastas ao grupo. A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo.

A conduta foi confirmada por integrantes do próprio governo ao periódico. Dois sinais já haviam sido dados aos ministros: a demissão de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e a declarações sobre distribuição de cargos de segundo e terceiro escalão ao Centrão e que não aceitará recusas. Antes da saída do ex-juiz federal do governo, Bolsonaro havia deixado claro em reunião com todos os ministros que a prerrogativa de fazer nomeações na gestão federal era dele.

O bloco parlamentar reúne cerca de 200 dos 513 deputados e virou a esperança do presidente de, pela primeira vez, ter base de sustentação no Congresso. O Centrão conta com PP, PL, Republicanos, PTB e PSD —esse último nega fazer parte, mas integra oficialmente o bloco do centrão na Câmara, liderado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL).

PF prende dupla que sacou R$ 96 mil do Auxílio Emergencial do governo em São Luiz


A dupla portava 108 cartões do Bolsa Família emitidos em nome de diversas pessoas e vários extratos bancários no momento da prisão

Estadão Conteúdo

Atuação da Polícia Federal - Foto: Divulgação
A Polícia Federal do Maranhão prendeu duas pessoas na madrugada da ultima quinta-feira (30), por saque indevido de R$ 96 mil, valor correspondente ao Auxílio Emergencial pago pelo governo a beneficiários de São Luiz devido à pandemia do novo coronavírus.

A dupla portava 108 cartões do Bolsa Família emitidos em nome de diversas pessoas e vários extratos bancários no momento da prisão. Ao serem questionados, confirmaram os saques em agência da Caixa Econômica Federal no centro de São Luiz. Os dois indivíduos foram presos e indiciados pelo crime de estelionato.

Moro chega à PF para depoimento; manifestantes pró e contra ex-ministro se reúnem no local


O ex-ministro afirma ter provas de que o presidente Bolsonaro tentou interferir nas investigações da PF

Por Estadão Conteúdo


Moro (na foto) quando visitou o Ceará em fevereiro deste ano - Foto: Thiago Gadelha

O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, chegou às 13 horas desta sábado (2) pelos portões dos fundos da sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), para depor para a Polícia Federal e para a Procuradoria Geral da República (PGR) sobre as denúncias feitas contra o presidente Jair Bolsonaro durante seu discurso de despedida do governo. O ex-juiz federal será assistido de um advogado.

Antes da chegada do ministro, um grupo de apoiadores do presidente (menos de 100 pessoas) ficou desde as 10 horas na frente da sede da PF com palavras de ordem contra Moro e a imprensa. Uma das coordenadoras, Paula Milani, se recusou a falar com a imprensa, assim como outros militantes. "Com tantos crimes maiores, porque ele quis se voltar contra o presidente e sua família?", gritavam do carro de som.

Militantes tomavam o microfone e chamavam Moro de "Judas", "rato", e chegaram a falar que "a biografia do Moro deveria ser jogada na privada", entre outros xingamentos. "Porque não investigava quem tentou matar o presidente?", gritavam.

Com Moro já no interior da sede, cobraram sua presença. "Não teve dignidade de vir dar oi para as duas únicas pessoas que estão aqui defendendo, pois todas outras estão com o presidente", disse uma manifestante.

Cerca de cinco apoiadores de Moro levavam faixas de apoio. O consultor Marcos Silva disse que acreditava em Moro e não merecia esse tratamento. "Acreditamos na honestidade de Sergio Moro, assim como ele fez na Lava-Jato ele tentou fazer no Ministério da Justiça, mas chegou perto dos filhos do presidente", disse.

O servidor público Alvaro Faria também estava presente e vestia uma camiseta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi condenado pela Operação Lava Jato. O manifestante fez críticas ao ex-juiz federal. "Faço questão de estar aqui para ver Moro depondo, ele que vazou áudios ilegalmente para prejudicar Dilma e Lula, que inflamou uma manifestação que iria acontecer depois, merece responder por isso também", comentou. Minutos depois, o apoiador de Lula precisou ser retirado do local.

Em outro momento, um cinegrafista da RIC teve seu equipamento atingido por uma manifestante, que foi contido pela Polícia Militar e levado para fora da área de imprensa. Após a tentativa de agressão, a PM precisou reforçar seu contingente em frente à sede da PF.

A nova tropa de choque do governo Bolsonaro


O presidente procura atrair para sua base de apoio os líderes partidários encalacrados com denúncias de corrupção na Justiça, inaugurando uma nova fase do seu governo: a aliança com os partidos mais comprometidos com malfeitos na história recente do País

Crédito: Mateus Bonomi; Kleyton Amorim/UOL/; EVARISTO SA / AFP; Lula Marques/;Suamy Beydoun/AGIF; Pedro Ladeira


Germano de Oliveira

Em 1988, durante o governo Sarney, ganhou força um personagem que inaugurou o toma lá dá cá na política brasileira: o falecido deputado Roberto Cardoso Alves, líder do Centrão na Câmara naquela ocasião. Ele se imortalizou ao apropriar-se de um trecho de uma oração de São Francisco de Assis: “é dando que se recebe”. Ou seja, os parlamentares dão apoio ao governo e recebem em troca cargos e benesses. Robertão, como era conhecido, pertencia ao fisiológico PTB e deixava transparente, seus métodos de atuação: trocava votos na Câmara por toda espécie de favores. Virou ministro da Indústria e Comércio de Sarney e, em contrapartida, ajudou o então presidente a evitar que seu governo fosse removido, já que nos últimos meses de seu mandato houve hiperinflação de mais de 90% e só não caiu porque sua base parlamentar, apoiada pelo Centrão, não permitiu. Agora, essas estratégias estão sendo postas em prática pelo novo Centrão, liderado, entre outros, por Roberto Jefferson, também líder petebista como Robertão e que, desde Collor de Mello, é um dos maiores adesistas de governos em troca de cargos e verbas públicas. Jefferson foi da tropa de choque de Collor, mas não conseguiu impedir que o então presidente sofresse o impeachment em 1992.

Depois, aderiu a Lula, recebendo R$ 4 milhões em troca, e conseguiu dar maioria ao PT no Congresso. Foi preso, inclusive, como um dos principais envolvidos no mensalão petista. Mostra, porém, que não aprendeu nada na cadeia. Agora, está oferecendo a Bolsonaro os votos dos 12 deputados petebistas na Câmara e, em troca, pode levar o Ministério do Trabalho, a ser recriado. Até recentemente, Jefferson era vilipendiado pelo bolsonarismo, que rechaçava a velha política por ele representada. Mas o capitão mudou radicalmente de ideia, sobretudo porque deseja, desesperadamente, ter maioria na Câmara para evitar o impeachment.

A nova tropa de choque de Bolsonaro na Câmara, porém, não se limita ao PTB de Jefferson. O presidente está procurando os líderes do PP, Republicanos, PL, PSD e Solidariedade, que têm em torno de 200 parlamentares, para construir sua base no Congresso, depois que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mostrou que não se submeterá aos desmandos do mandatário e acabou encaminhando votações desfavoráveis ao governo, como a ajuda aos Estados. Graças a isso, Maia foi vítima de uma onda sem precedentes de ataques do “gabinete do ódio”, comandado por Carlos Bolsonaro. Se bem que há dezenas de deputados do DEM de Maia ávidos por novas boquinhas no governo. Na negociata com o Centrão, Bolsonaro oferece cargos em estatais e até ministérios. Ao presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, investigado por corrupção, Bolsonaro chegou a oferecer o Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações, ocupado pelo astronauta Marcos Pontes. O PSD é um dos partidos que o bolsonarismo mais deseja atrair, pois tem 37 deputados e 11 senadores, a segunda maior bancada no Senado. Ao colocar apadrinhados de Kassab em seu governo, Bolsonaro dá ainda uma estocada no governador João Doria (PSDB), já que o tucano tirou o presidente nacional do PSD de seu governo em São Paulo logo que ele foi denunciado à Justiça por corrupção. Dessa forma, Kassab dá o troco em Doria, hoje o pior inimigo de Bolsonaro.

Acusados de corrupção


Mas entre todos os novos aliados de Bolsonaro, um dos mais nocivos representantes da velha política agora atraídos está Valdemar da Costa Neto, líder do PL, que tem no balcão de negócios 39 parlamentares a oferecer ao governo. Também condenado a sete anos de prisão no caso do mensalão do PT, por ter recebido R$ 8,8 milhões em propinas, Costa Neto deve levar a presidência do Banco do Nordeste e a direção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), exatamente o órgão do Ministério dos Transportes do governo petista que “Boy”, como é conhecido, dilapidou. Outro acusado de corrupção, o deputado Marcos Pereira (Republicanos), que comanda 31 deputados, deve ser contemplado com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Pastor da Universal, ele é investigado no STF por receber propinas da Odebrecht (R$ 7 milhões) e da JBS (R$ 6 milhões).

Arthur Lira (PP-AL), investigado pelo STF por receber R$ 106 mil em propinas para manter o presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no posto em 2012, vai ganhar cargos no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Paulinho da Força, que negocia em nome de 14 deputados do Solidariedade, é investigado por receber R$ 1,8 milhão em propinas da Odebrecht e lhe foi oferecido o Porto de Santos, conhecido antro de corrupção. Todos esses políticos, contudo, reclamam que Bolsonaro está demorando a concretizar as promessas. Mas, como agora o mandatário está acossado por quase 30 pedidos de impeachment, que se avolumam na mesa de Maia – além de duas investigações no STF que podem levar seu mandato a naufragrar -, é possível que o capitão corra para cumprir os compromissos selados com os discípulos de São Francisco.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Policiais apreendem bolsa com R$ 25 mil após ação contra o tráfico de drogas em Itarema


Suspeitos fugiram para uma região de mangue ao ver os policiais e deixaram para trás a bolsa com a quantia em espécie

Apreensão aconteceu na localidade de Saquim, em Itarema / Foto: SSPDS

Uma bolsa com R$ 25 mil reais foi recuperada pela polícia durante uma ação contra o tráfico de drogas realizada nesta quarta-feira (29) na zona rural do município de Itarema, no norte do Ceará. A quantia em dinheiro estava em posse de dois suspeitos que fugiram.

Segundo a polícia, denúncias anônimas indicavam a existência de suspeitos que traficavam drogas na localidade de Saquim. De posse das informações sobre a localização dos homens, agentes do Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio) se aproximaram de uma dupla que portava arma de fogo.

Ao perceber a aproximação, os suspeitos fugiram para uma área de manguezal e deixaram cair uma bolsa. Os PMs revistaram o acessório e encontraram o valor em espécie armazenado em cédulas de R$ 50 reais.

O material foi apreendido e levado para a Delegacia Municipal de Itarema, responsável por investigar a origem do dinheiro e a identificação dos suspeitos, para realizar a prisão deles.

Onyx Lorenzoni anuncia que segunda parcela do auxílio emergencial está prevista para a semana que vem


Ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni anuncia que o novo depósito de R$ 600 será anunciado na próxima semana; segundo o governo, 45 milhões de brasileiros já receberam a primeira parcela

Gaucha GH e Jornal O Tempo


Aglomeração em frente à Caixa
Filas estão sendo registradas em unidades da Caixa de todo o país / Foto: Divulgação

O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, afirmou na tarde desta quinta-feira (30) que o calendário de pagamento da segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600 será divulgado na próxima segunda-feira (4).

De acordo com Lorenzoni, cerca de 45 milhões de brasileiros já receberam a primeira parcela do “coronavoucher”, outras 5 milhões elegíveis ainda estão com pagamento pendente. Até o momento, o governo estima que vai gastar cerca de R$ 128 bilhões com a ajuda aos trabalhadores informais.

“O governo processou até agora 96 milhões de CPFs cadastrados no aplicativo do auxílio emergencial. Até hoje à noite, todos os inscritos até 26 de abril no app terão resposta da avaliação pendente”, informou Lorenzoni. O Ministro disse ainda, que o pagamento da segunda parcela será realizado entre o dia 5 e 8 de maio.

Segundo o ministro, a demora no processamento e análise dos cadastros deve-se ao grande número de tentativas de fraude no auxílio emergencial. “Até agora, encontramos 32 milhões de cadastros inelegíveis. De pessoas que, perante a lei, não tinham habilitação para receber o auxílio. Isso demonstra claramente que houve fraudes, o que acabou dificultando a rapidez na análise de quem tem direito”, lamentou Onyx.

De acordo com o governo, entre os 32 milhões de cadastros inaptos há também registros redundantes. “Temos 13,6 milhões de cadastros inconclusos, onde, por exemplo, o pai registra a família, e a mãe também, a mesma família. Essas pessoas vão precisar entrar e baixar a nova versão do aplicativo e revisar o cadastramento. Essa atualização virá com um tutorial facilitando o preenchimento para que a gente possa encontrar mais elegíveis”, concluiu o ministro.

Assista a entrevista do Ministro 



quinta-feira, 30 de abril de 2020

Urgente: Celso de Mello dá 5 dias para que Moro preste depoimento à PF


A ordem atende a diversos pedidos feitos por parlamentares para que Moro seja ouvido logo — o prazo inicial era de 60 dias.

Por Renan Ramalho/O Antagonista


O ministro Celso de Mello determinou que a Polícia Federal tome o depoimento de Sergio Moro em no máximo cinco dias, no inquérito para investigar suposta interferência política de Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Segundo reportagem do site O Antagonista.

No depoimento, o ex-ministro poderá apresentar provas de suas declarações da semana passada, “com a exibição de documentação idônea que eventualmente possua acerca dos eventos em questão”.

A ordem atende a diversos pedidos feitos por parlamentares para que Moro seja ouvido logo — o prazo inicial era de 60 dias.

Numa petição a Celso de Mello, o PT também pediu cópia de mensagens do celular de Moro.
Na decisão, o ministro afirmou que cabe somente à Procuradoria Geral da República requisitar esse tipo de medida ou outras diligências que julgar necessárias para a apuração.

Celso de Mello delegou ao Serviço de Inquéritos da PF, ligada à Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor), a tomada do depoimento.

Trata-se do grupo especial que investiga políticos com foro privilegiado no Supremo, inclusive nos casos da Lava Jato.

Sergio Moro afirma que apresentará ao STF provas contra Bolsonaro


Em entrevista exclusiva a Revista Veja, o ex-ministro da Justiça diz que o governo nunca priorizou o combate à corrupção

Por Policarpo Junior, Laryssa Borges/Veja



ATÉ O FIM - Sergio Moro: “Não recuo em nada do que afirmei” Cristiano Mariz/VEJA

Quando Sergio Moro decretou as primeiras prisões da Operação Lava-­Jato, em 2014, ninguém imaginava que começaria ali uma revolução de consequências históricas para a política, a economia e o combate à corrupção no Brasil. Em quatro anos, as investigações revelaram a existência de uma monumental estrutura que tinha como membros ativos as maiores empreiteiras do país, altos dirigentes de empresas estatais e políticos de todos os quilates — de deputados a presidentes da República. Todos se nutrindo da mesma fonte de um esquema que, durante anos, desviou mais de 40 bilhões de reais dos cofres públicos, dinheiro convertido em financiamento de campanhas eleitorais e propina. O caso fulminou biografias, quebrou empresas, arrasou partidos políticos e desmascarou muita gente que se dizia honesta. A histórica impunidade dos poderosos levou uma surpreendente rasteira — e abriu caminho para que um outsider chegasse à Presidência da República. Com a eleição de Jair Bolsonaro e a nomeação de Sergio Moro para o Ministério da Justiça, muitos apostaram que a corrupção sistêmica sofreria o golpe de misericórdia no país — uma tremenda ilusão, segundo o próprio Moro.

INTERFERÊNCIA POLÍTICA - Segundo a reportagem da Revista Veja “O combate à corrupção não é prioridade do governo”, foi o que revelou o agora ex-­ministro da Justiça, que foi descobrindo aos poucos que embarcara numa fria. Ele estava em casa na madrugada da sexta (24), quando soube que o diretor-geral da Polícia Federal fora demitido pelo presidente. Mas o episódio foi a gota d’água de uma relação tumultuada e desgastada. Havia tempo o presidente não escondia a intenção de colocar no cargo alguém de sua estrita confiança. Bolsonaro frequentemente reclamava da falta de informações, em especial sobre inquéritos que tinham como investigados amigos, correligionários e parentes dele. Moro classificou a decisão do presidente de pôr um parceiro no comando da PF de uma manobra para finalmente ter acesso a dados sigilosos, deu a isso o nome de interferência política e, na sequência, pediu demissão. Bolsonaro, por sua vez, disse que a nomeação do diretor da PF é de sua competência e que as acusações de Moro não eram verdadeiras. O Supremo Tribunal Federal mandou abrir um inquérito para apurar suspeitas de crime.

RECADO – Moro, em relação a Bolsonaro: “Ele sabe quem está falando a verdade” Alex Farias/Photo Press/.

Em entrevista exclusiva a VEJA, Moro revelou que não vai admitir ser chamado de mentiroso e que apresentará à Justiça, assim que for instado a fazê-lo, as provas que mostram que o presidente tentou, sim, interferir indevidamente na Polícia Federal. Um pouco abatido, o ex-ministro também se disse desconfortável no papel que o destino lhe reservou: “Nunca foi minha intenção ser algoz do presidente”. Desde que deixou o ministério, ele passou a ser hostilizado brutalmente pelas redes bolsonaristas. “Traidor” foi o adjetivo mais brando que recebeu. Mas o fato é que Bolsonaro nunca confiou em Moro. Sempre viu nele um potencial adversário, alguém que no futuro poderia ameaçar seu projeto de poder. Na entrevista, o ex-ministro, no entanto, garante que a política não está em seus planos — ao menos por enquanto. Na quarta-feira 29, durante a conversa com VEJA, Moro recebeu um alerta de mensagem no telefone. Ele colocou os óculos, leu e franziu a testa. “O que foi ministro?” “O presidente da República anunciou que vai divulgar um ‘vídeo-bomba’ contra mim.” “E o que o senhor acha que é?”, perguntamos. Moro respirou fundo, ameaçou falar alguma coisa, mas se conteve. A guerra está só começando. Acompanhe nas próximas páginas os principais trechos desta conversa.

“O COMBATE À CORRUPÇÃO NÃO É PRIORIDADE DO GOVERNO”

O ex-ministro Sergio Moro recebeu VEJA em seu apartamento em Brasília. Na entrevista, que durou duas horas, ele lembrou que aceitou o cargo de titular da Justiça diante do compromisso assumido por Bolsonaro com o combate à corrupção. Aos poucos, porém, foi percebendo que esse discurso não encontrava sustentação na prática do governo — e ficou bastante incomodado quando viu o presidente se aproximar de políticos suspeitos:

“Sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo foram surgindo no decorrer da gestão. Começou com a transferência do Coaf para o Ministério da Economia. O governo não se movimentou para impedir a mudança. Depois, veio o projeto anticrime. O Ministério da Justiça trabalhou muito para que essa lei fosse aprovada, mas ela sofreu algumas modificações no Congresso que impactavam a capacidade das instituições de enfrentar a corrupção. Recordo que praticamente implorei ao presidente que vetasse a figura do juiz de garantias, mas não fui atendido. É bom ressaltar que o Executivo nunca negociou cargos em troca de apoio, porém mais recentemente observei uma aproximação do governo com alguns políticos com histórico não tão positivo. E, por último, teve esse episódio da demissão do diretor da Polícia Federal sem o meu conhecimento. Foi a gota d’água”.


O ex-juiz da Lava-Jato era, até dias atrás, tratado como “herói” pelos militantes bolsonaristas, mas,… Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A LENDA - O senhor acusou o presidente Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal. Tem provas disso?

O presidente tem muito poder, tem prerrogativas importantes que têm de ser respeitadas, mas elas não podem ser exercidas, na minha avaliação, arbitrariamente. Não teria nenhum problema em substituir o diretor da PF Maurício Valeixo, desde que houvesse uma causa, uma insuficiência de desempenho, um erro grave por ele cometido ou por algum de seus subordinados. Isso faz parte da administração pública, mas, como não me foi apresentada nenhuma causa justificada, entendi que não poderia aceitar essa substituição e saí do governo. É uma questão de respeito à regra, respeito à lei, respeito à autonomia da instituição.

E quais eram as motivações políticas?

Reitero tudo o que disse no meu pronunciamento. Esclarecimentos adicionais farei apenas quando for instado pela Justiça. As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar.

“NÃO POSSO ADMITIR QUE O PRESIDENTE ME CHAME DE MENTIROSO”

O presidente Bolsonaro rebateu as acusações do ex-ministro. Ele negou que houvesse tentativa de interferência política na Polícia Federal e acusou Sergio Moro de tentar negociar a demissão do diretor da PF em troca de sua nomeação para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Moro conta por que divulgou uma mensagem trocada entre ele e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e outra entre ele e Bolsonaro:

“Eu apresentei aquelas mensagens. Não gostei de apresentá-las, é verdade, mas as apresentei única e exclusivamente porque no pronunciamento do presidente ele afirmou falsamente que eu estava mentindo. Embora eu tenha um grande respeito pelo presidente, não posso admitir que ele me chame de mentiroso publicamente. Ele sabe quem está falando a verdade. Não só ele. Existem ministros dentro do governo que conhecem toda essa situação e sabem quem está falando a verdade. Por esse motivo, apresentei aquela mensagem, que era um indicativo de que eu dizia a verdade, e também apresentei a outra mensagem, que lamento muito, da deputada Carla Zambelli. O presidente havia dito uma inverdade de que meu objetivo era trocar a substituição do diretor da PF por uma vaga no Supremo. Eu jamais faria isso. Infelizmente, tive de revelar aquela mensagem para provar que estava dizendo a verdade, que não era eu que estava mentindo”.

IMAGEM QUEIMADA… – depois das acusações que fez contra o presidente, foi alvo de ataques e chamado de “traidor” Pedro Ladeira/.

Na mensagem, Bolsonaro cita uma investigação sobre deputados aliados e afirma que aquilo era motivo para trocar o diretor da PF. O que exatamente queria o presidente? Desculpe, mas essa é uma questão que também vai ter de ser examinada dentro do inquérito que foi aberto no Supremo Tribunal Federal para investigar esse caso. Reitero a minha posição. Uma vez dito, é aquilo que foi dito. Não volto atrás. Seria incoerente com o meu histórico ceder a qualquer intimidação, seja virtual, seja verbal, seja por atitudes de pessoas ou de outras autoridades.

O senhor sofreu algum tipo de ação intimidatória após as revelações que fez?

Atacaram minha esposa e estão confeccionando e divulgando dossiês contra ela com informações absolutamente falsas. Ela nunca fez nada de errado. Nem eu nem ela fizemos nada de errado. Esses mesmos métodos de intimidação foram usados lá trás, durante a Lava-­Jato, quando o investigado e processado era o ex-presidente Lula.

“NUNCA FOI MINHA INTENÇÃO SER ALGOZ DO PRESIDENTE”

Depois das denúncias de Moro, o Supremo Tribunal Federal determinou que fosse aberto um inquérito para apurar se o presidente tentou de fato aparelhar a PF para fins políticos. Em seu parecer, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu que também fossem investigados os crimes de denunciação caluniosa e contra a honra — ilícitos que, em tese, podem ter sido praticados por Moro:

“Entendi que a requisição de abertura desse inquérito que me aponta como possível responsável por calúnia e denunciação caluniosa foi intimidatória. Dito isso, quero afirmar que estou à disposição das autoridades. Os ataques mais virulentos vieram principalmente por redes virtuais. Não tenho medo de ofensa na internet, não. Me desagrada e tal, mas se alguém acha que vai me intimidar contando inverdades a meu respeito no WhatsApp ou na internet está muito enganado sobre minha natureza”.

Aras: pedido de investigação por denunciação caluniosa e crime contra a honra do presidente Andressa Anholete/Getty Images

RISCO DE PROCESSO – A opinião pública

O senhor recebeu mais críticas ou apoios por se demitir do cargo e acusar o presidente?

Compreendeu o que eu disse e os motivos da minha fala. É importante deixar muito claro: nunca foi minha intenção ser algoz do presidente ou prejudicar o governo. Na verdade, lamentei extremamente o fato de ter de adotar essa posição. O que eu fiz e entendi que era minha obrigação foi sair do governo e explicar por que estava saindo. Essa é a verdade.

Qual é hoje a sua opinião sobre o presidente Bolsonaro?

Pessoalmente, gosto dele. No governo, acho que há vários ministros competentes e técnicos. O fato de eu ter saído do governo não implica qualquer demérito em relação a eles. Fico até triste porque considero vários deles pessoas competentes e qualificadas, em especial o ministro da Economia. Espero que o governo seja bem-sucedido. É o que o país espera, no fundo. Quem sabe a minha saída possa fomentar um compromisso maior do governo com o combate à corrupção.

“NÃO QUERO PENSAR EM POLÍTICA NESTE MOMENTO”

Em todas as grandes manifestações dos apoiadores do presidente, a figura do ex-ministro da Justiça sempre ocupou lugar de destaque. Após sua demissão, ele passou a ser tratado nas redes sociais como traidor e oportunista que estaria tirando proveito político em um momento de fragilidade do governo:

“Lamento ter de externar as razões da minha saída do governo durante esta pandemia. O foco tem de ser realmente o combate à pandemia. Estou dando entrevista aqui porque tenho sido sucessivamente atacado pelas redes sociais e pelo próprio presidente. Hoje mesmo, quarta, ele acabou de dar declarações, ontem deu declarações. Venho sendo atacado também por parte das pessoas que o apoiam politicamente. Tudo o que estou fazendo é responder a essas agressões, às inverdades, às tentativas de atingir minha reputação”.

Adélio, que tentou matar o presidente: caso ainda não encerrado./Divulgação

MANDANTE - O que o senhor pretende fazer a partir de agora?

Estou num período de quarentena. Tive 22 anos de magistratura. Deixei minha carreira com base em uma promessa não cumprida de que eu teria apoio nessas políticas de combate à corrupção. Isso foi um compromisso descumprido. Não posso voltar para a magistratura. Eu me encontro, no momento, desempregado, sem aposentadoria. Tudo bem, tem gente em situação muito mais difícil que a minha. Não quero aqui ficar reclamando de nada. Pedi a quarentena para ter um sustento durante algum tempo e me reposicionar, provavelmente no setor privado.

Não pensa em entrar definitivamente na política?

Minha posição sempre foi de sentido técnico. Vou continuar buscando realizar um trabalho técnico, agora no setor privado. Não tenho nenhuma pretensão eleitoral. Não me filiei a partido algum. Nunca foi meu plano. Estou num nível de trabalho intenso desde 2014. Quero folga. E não quero pensar em política neste momento.

“PODE EXISTIR UM MANDANTE DO CRIME”

Um dos motivos do desgaste de Sergio Moro e da direção da PF foi a investigação do atentado que Bolsonaro sofreu durante a campanha. O presidente não acredita que o garçom Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho. Crê numa conspiração política patrocinada por adversários. A polícia nunca encontrou nenhuma prova concreta disso. Questionado sobre o assunto, o ex-ministro diz que a hipótese não é absurda:

“Existe uma forte suspeita de que o Adélio tenha agido a mando de outra pessoa. A Polícia Federal fez a investigação. Como o presidente é vítima neste caso, nós fizemos uma apresentação no primeiro semestre de 2019 no Planalto. Os delegados apresentaram todo o resultado da investigação até aquele momento. Pende para o final da investigação um pedido de exame do aparelho celular de um advogado do Adélio. A polícia buscou esse acesso, e isso foi obstado pelas Cortes de Justiça, e ainda não há uma decisão definitiva. Depois do exame desse celular, o inquérito poderá ser concluído. Esse é o conteúdo de inquérito que foi mostrado ao presidente, não é ilegal, já que ele é a vítima e tem, como vítima, a meu ver, o direito de ter essas informações. Não é nenhuma questão só do crime em si, mas um caso de segurança nacional. A suspeita de que pode existir um mandante intelectual do crime não pode ser descartada. Enquanto não se tem a conclusão da investigação, não se pode ter um juízo definitivo”.

- A facada: o ex-ministro diz que ainda existem “suspeitas” de que o atentado possa ter um mandante Rayssa Leite/AFP

CONSPIRAÇÃO - O senhor tem medo de sofrer algum atentado?

Certamente. Sigo tendo a proteção da Polícia Federal. Não gosto de falar muito nesse assunto. Isso é algo que assusta pessoas próximas a mim.

Foi por isso que, antes de aceitar o cargo, o senhor pediu ao presidente uma pensão caso lhe acontecesse algo?

Achei engraçado algumas pessoas dizerem que seria um crime da minha parte. O que aconteceu foi o seguinte: como eu larguei a magistratura, perdi a aposentadoria e a pensão. E, como eu sabia que nós seríamos firmes contra a criminalidade violenta, contra o crime organizado e contra a corrupção, o que externei ao presidente foi um desejo de que, se algo me acontecesse durante a gestão, como eu havia perdido a pensão, minha família não ficasse desamparada. Certamente teria de ser analisada juridicamente a viabilidade disso, e a aprovação através de uma lei. A condição para que a pensão fosse paga seria a minha morte. Só externei que, caso eu fosse morto em combate, fosse garantida uma pensão integral à minha família, correspondente aos vencimentos de ministro.

O senhor se arrepende de ter largado a magistratura para entrar no governo Bolsonaro?

Não. A gente tem esse espelho da Operação Mãos Limpas, na Itália. Foi feito um trabalho fantástico lá pelos juízes, mas houve um retrocesso político na Itália naquela época. Eles lamentavam muito. Embora soubesse que minha ida para o governo seria controversa, o objetivo sempre foi continuar defendendo a bandeira anticorrupção, evitando retrocessos. Não, não me arrependo. Acho que foi a decisão acertada naquele momento. Agradeço ao presidente por ter me acolhido. Assumi um compromisso com ele que era muito claro: combate à corrupção, ao crime organizado e à criminalidade violenta. Eu me mantive fiel a esse compromisso.

Matéria será publicada em VEJA de 6 de maio de 2020, edição nº 2685

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