Associações e sindicatos ligados à educação pública
se posicionaram contra retorno presencial a partir desta segunda-feira (26)
Com Informações do Diário do Nordeste
Alunos em sala de aula com distanciamento - Retorno das aulas até 9º ano foi liberado
pelo Governo do Ceará - Foto: José Leomar
Profissionais da rede pública de educação receberam
com preocupação e descontentamento o anúncio de ampliação da autorização para o
retorno às aulas presenciais nas escolas, do ensino infantil até o 9º ano do
Ensino Fundamental, a partir de segunda-feira (26). A liberação está prevista
no novo decreto estadual contra a pandemia, divulgado pelo governador Camilo
Santana no último sábado (24). Segundo representantes, não há estrutura para
manter todos seguros nas escolas municipais do Estado.
Associação que reúne pais de alunos comemorou
abertura, mas reforça importância da vacinação de professores.
Em nota, a Federação dos Trabalhadores no Serviço Público
Municipal do Estado do Ceará (Fetamce), repudiou a decisão tomada pelo
governador do Ceará, Camilo Santana, quanto à volta às aulas presenciais e
alegou falta de investimento para escolas públicas municipais retomarem o
funcionamento em meio a pandemia.
“Requeremos que o governador revogue a medida, pois
não houve nenhum investimento nas escolas públicas municipais que garantam uma
estrutura de segurança sanitária e o ritmo das vacinações em todo o país segue
de forma lenta. Tal atitude coloca em risco a vida da comunidade escolar e toda
a sociedade”, destaca em nota.
O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do
Ceará (Sindiute) também se posicionou contra a medida. Ana Cristina, presidente
do Sindiute, acredita que não existe segurança sanitária para o retorno das
aulas nas escolas municipais sem a garantia da não contaminação pela Covid-19.
“Nós (profissionais da educação) compreendemos que
precisamos retornar, porque a educação é um direito, mas não existe educação
sem vida”, declara Ana Cristina.
Segundo a representante do sindicato, a luta da
categoria segue sendo pela vacinação da população, e não apenas de professores.
“Todos nós educadores queremos voltar, e queremos
voltar o quanto antes, mas precisamos voltar com garantias de vida, porque os
alunos não se vacinam, mas os professores que estão lá precisam se vacinar, e
os pais de alunos [também]. Porque tanto os alunos vão contaminar a família
deles, como nós [profissionais de educação] vamos contaminar a nossa",
disse a presidente.
PELO RETORNO DAS AULAS
Em contrapartida, o presidente da Associação de
Pais e Alunos da Escola Pública no Ceará (Apaespu - CE), Eliu Bento, afirma que
os pais são a favor da volta presencial das aulas.
“Nós somos a favor do retorno das aulas para o bem
dos alunos. [Me refiro] ao aprendizado, porque tivemos um ano que vai ser
irrecuperável, então é um dever e obrigação do poder público oferecer essa
educação para os jovens”, enfatiza Eliu.
Ainda assim, o presidente da entidade destaca a
importância da vacinação para um retorno seguro. “Os profissionais de educação
deveriam estar em grupo prioritários da vacinação, logo depois dos
profissionais da saúde, para uma volta segura, já que a educação é o futuro do
país”, conclui.
De acordo com o IntegraSUS, plataforma gerenciada
pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), já são 16.460 casos
confirmados de Covid-19 em estudantes, desde o início da pandemia. Dentre os
casos confirmados, 260 compreendem a faixa etária de zero a 14 anos. Os números
correspondem a atualização das 9h54, deste domingo (25).
“FOMOS PEGOS DE SURPRESA”
Luiza Aurélia, presidente da União dos Dirigentes
Municipais de Educação do Ceará (UNDIME), afirma que a decisão anunciada na
noite do sábado (24), pegou os dirigentes de surpresa. A entidade, que durante
a primeira onda da pandemia fazia parte do Comitê Consultivo para decisões
referentes à educação no Estado, não foi consultada desta vez.
“Nessa segunda onda não fomos consultados, e ainda
não sentamos quanto diretoria para deliberar sobre essa situação. Mas fomos
pegos de surpresa, nós esperávamos que fôssemos ouvidos nessa segunda onda, que
está bem mais agressiva, o que não aconteceu”, lamenta.
Para Luiza Aurélia, a volta imediata das escolas
públicas municipais é inviável devido ao andamento da pandemia, mas, durante a
próxima semana, reuniões para avaliar a situação serão providenciadas.
“Vamos juntos à Aprece (associação dos municípios
do Ceará) avaliar as condições dos municípios, para assim propormos uma
retomada simultânea quando nos sentirmos seguros e organizados para tal ato”,
explica Aurélia. “Mas é importante avançar na imunização, como outros estados
já estão fazendo, pois compreenderam que a volta da educação presencial é
essencial”, completa.
A Secretaria Municipal de Educação (SME) de
Fortaleza foi demandada sobre o retorno presencial, mas ainda não se
manifestou.
Assista vídeo de um professor que desabafa sobre o vivencia do momento