Os Três Guardiões: Filho de agricultores no interior do CE passa em Direito na UFC: ‘tenho exemplos de pessoas fortes’

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quinta-feira, 2 de março de 2023

Filho de agricultores no interior do CE passa em Direito na UFC: ‘tenho exemplos de pessoas fortes’

Estudante da rede pública, Maicon disse ter treinado muito para redação do Enem. - Com informações do Diário do Nordeste.

 

Foto: Acervo pessoal - Legenda: Maicon celebra a vaga na Universidade como uma conquista da família

Qual a trajetória de um estudante na zona rural, filho de agricultores, até a aprovação em Direito na Universidade Federal do Ceará (UFC) – um dos cursos mais disputados no Estado? “Ele não está em casa. Foi ajudar o pai a plantar”, explica a madrinha do rapaz, na primeira tentativa de conseguir a resposta para esta matéria.

Francisco Maicon Cavalcante de Mesquita, de 18 anos, vai cusar Direito na UFC a partir deste ano. O resultado foi oficializado nesta semana. Mas antes disso, ele precisou mudar de casa durante os dias letivos, ter foco nas atividades da escola e nos conteúdos complementares até alcançar uma vaga no curso sonhado, e agora comemorado com a família.

Na reta final do processo seletivo, há apenas 6 pontos da nota de corte do curso, a ansiedade bateu mais forte junto com a pergunta: “será que vai dar?”.

“Eu não acreditava em mim e fui olhar se estava na lista de espera. Quando vi a mensagem ‘você foi selecionado’ foi uma sensação muito louca. Ver aquilo foi como se eu estivesse num sonho”, lembrou o estudante durante entrevista ao Diário do Nordeste.

Naquele momento, sentado no sofá depois de voltar da igreja e ainda em êxtase com a conquista, acordou os pais e irmãos para contar a notícia.

“Eles ficaram bastante emocionados porque eu sou o primeiro daqui a fazer a faculdade”, completa. O resultado do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foi publicado nesta terça-feira (28). E a Faculdade de Direito da UFC, inclusive, completa 120 anos de criação nesta quarta-feira (1º).

Maicon concluiu o ensino médio na Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Antônio Mota Filho, em Tamboril, no Sertão de Crateús. Mas a sua casa, na verdade, fica a cerca de 50 km, em Monsenhor Tabosa, interior do Ceará.

O jovem decidiu entrar na escola onde há formação técnica e com bons índices de aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para isso, abriu mão da convivência com os pais e passou a viver, durante a semana, com uma parente.

“Meu coração ficava apertado porque eu sou muito apegado a eles. E, principalmente, que lá eu só conhecia minha tia. Foi tudo novo", compartilha. Foi pensando no pai Evandro e na mãe Eliete, contudo, que ele tomou e sustentou a decisão. Os dois atuam na plantação de milho, feijão e mamona”.

“Agora eu tenho a oportunidade de melhorar a realidade dos meus pais, a minha e da minha família”, frisa sobre o sonho de se tornar advogado. Até esse degrau, o estudante precisou ter muita disciplina.

Maicon teve o primeiro contato com a maratona de questões do Enem, como treino, na edição de 2021.

“Fiz para entender o meu nível de conhecimento, saber o que eu precisava melhorar. O resultado não foi tão bom, então foquei muito no colégio e sempre consegui notas boas. Eu anotava tudo”, acrescenta o rapaz.

COMO FOI A PREPARAÇÃO

Sem condições de pagar cursos preparatórios, a estratégia foi alcançar um bom rendimento escolar e treinar a escrita durante o ano todo. O resultado? Maicon conseguiu 960 pontos na redação, uma das maiores entre os alunos da escola, quase alcançando o valor máximo.

O desafio com os números também foi superado. “Como não entendia muito, acabei focando em conteúdos como regra de 3, análises de gráficos e de figuras planas. Tanto que a minha segunda maior nota foi em matemática”, destaca.

Sempre gostei de perguntar e fiz amizade com meus professores. Eles me ajudaram com indicações e fui buscando conteúdos que me interessavam. A escola recebeu uma doação de livros de redação, tinha um curso de redação bastante caro, o que me ajudou bastante

Maicon dedica-se à leitura desde pequeno. E isso começou quando ele sofreu um acidente e, no hospital, quis aproveitar uma revista infantil.

“Meus pais não tiveram acesso à educação, eles aprenderam a ler com mais de 30 anos, e minha mãe tinha vergonha de ler em público. Ela não aceitou quando eu pedi pra ela ler a revista para mim”, lembra o jovem”.

Além das palavras escritas, a argumentação passou a fazer parte do cotidiano. Tanto que isso foi notado pelos mestres de Maicon. Após uma consulta da grade do curso, a área do Direito Civil aparece como uma opção para dar uma contribuição social, como explica.

“Conforme fui crescendo, fiquei revoltado com algumas injustiças e sempre gostei de me posicionar. Os professores até diziam que mesmo errado eu sustentava minhas palavras, e isso me motivou a entrar no Direito”, frisa sobre a habilidade.”

“Com a conquista da vaga, Maicon deve recorrer mais uma vez à família – "joia da vida" – para a nova mudança, a fim de começar os estudos. “Minha madrinha, que sempre me apoiou nos estudos e foi presente na minha vida, mora em Fortaleza. Ela me disse que daria esse apoio”.

Sou de uma família bastante humilde, mas muito unida. Somos muito felizes, porque temos exemplos de pessoas fortes, trabalhadoras e que nunca desistiram

“Ao ajudar o pai na plantação, como aconteceu durante esta manhã, o jovem compartilhou o sonho de estudar. “Ele disse que não me via trabalhando com isso e, quando eu falei sobre Direito, falou: ‘faça por onde que Deus dá um jeito’”.

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