Hoje é um "dia histórico" no tratamento da Covid-19, diz Sociedade Brasileira de Infectologia

Uso da dexametasona em caso de necessidade de ventilação mecânica e oxigênio reduz mortalidade, confirma SBI

Sérgio Ripardo

Barato e de fácil acesso, o corticoide dexametasona reduz a mortalidade entre os pacientes mais graves, de acordo com pesquisadores britânicos - Foto: AFP

"Dia histórico no tratamento da Covid-19", classificou, nesta terça-feira (16), a Sociedade Brasileira de Infectologia sobre o corticóide dexametasona, uma medicação que conseguiu reduzir as mortes de pacientes com Covid-19, segundo anúncio feito por pesquisadores britânicos.

O resultado do estudo "Recovery" da Universidade de Oxford, ainda não foi publicado em revistas científicas, mas animou os infectologistas com o anúncio feito nesta terça-feira pela instituição britânica que tem o projeto mais adiantado de potencial vacina contra o novo coronavírus, já em fase de testes em humanos.

"Temos o primeiro tratamento farmacológico para Covid-19 que mostrou impacto em reduzir a mortalidade! Finalmente temos uma 'boa nova'", festejou o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clóvis Arns da Cunha, em informe.

Ele detalhou tecnicamente como é feito o tratamento aprovado no Reino Unido.

"Todo paciente com Covid-19 em ventilação mecânica e os que necessitam de oxigênio fora da UTI devem receber dexametasona via oral ou endovenosa 6mg 1x/dia por 10 dias. Medicação barata e de acesso universal", informou a SBI, que é filiada à Associação Médica Brasileira.

O informe da SBI destacou que os resultados preliminares do estudo de Oxford demonstrou que a dose de 6mg de dexametasona por via oral ou por via endovenosa uma vez por dia, por 10 dias, demonstrou três pontos.

Primeiro, houve uma redução de mortalidade (em 28 dias) de um terço (33,3%) nos pacientes com Covid-19 em ventilação mecânica. Segundo, uma redução de mortalidade (em 28 dias) de um quinto (20%) nos pacientes necessitando de oxigênio e que não estão em ventilação mecânica. Terceiro: não houve diferença nos pacientes que não necessitam de oxigênio.

"Como temos insistido desde o início da pandemia de Covid-19, os estudos clínicos randomizados e com grupo controle é que devem nortear nossa conduta de 'como tratar Covid-19'", ressalva o presidente da SBI.

Legenda: Governo do Reino Unido indicou que começará imediatamente a fornecer este esteroide - Foto: AFP

OMS

A Organização Mundial de Saúde (OMS) celebrou o "avanço científico" .

"É o primeiro tratamento comprovado que reduz a mortalidade nos pacientes enfermos de Covid-19 sob assistência de oxigênio ou respirador", comentou diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em comunicado.

"É uma boa notícia e felicito o governo britânico, a universidade de Oxford e os numerosos hospitais e pacientes no Reino unido que contribuíram com este avanço científico que salva vidas", acrescentou.

Pouco depois do anúncio dos pesquisadores, o governo britânico disse que o tratamento será usado imediatamente para tratar os pacientes afetados.

"A dexametasona é barata, já está no mercado e pode ser usada imediatamente para salvar vidas em todo mundo", disse um dos responsáveis pelo Recovery, professor Peter Horby, da Universidade de Oxford.

"O benefício em termos de sobrevivência é significativo em pacientes doentes o suficiente para precisarem de oxigênio, para os quais a dexametasona agora deve se tornar o tratamento básico", afirmou.

Estoque

Em um vídeo postado em sua conta no Twitter, o ministro da Saúde, Matt Hancock, disse que o Reino Unido tem 200.000 tratamentos prontos para uso armazenados desde março.

Este medicamento já é usado em muitas indicações por seus poderosos efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores.

"Este é um grande passo na busca de novas maneiras de tratar pacientes com Covid", declarou o professor Stephen Powis, diretor médico do NHS, o serviço público de saúde britânico.

De fato, como apontado pelos responsáveis do Recovery, "a dexametasona é o primeiro medicamento observado que melhora a sobrevida em caso de Covid-19".

Um medicamento de outra família, o antiviral remdesivir, demonstrou alguma eficácia em acelerar a recuperação de pacientes hospitalizados com Covid-19. O anúncio foi feito oficialmente no final de abril pelas autoridades americanas. No entanto, o remdesivir não conseguiu provar que evitava mortes.