Ela disse que transmissão por assintomáticos 'parece rara'. OMS esclareceu nesta terça estar 'absolutamente convencida de que o contágio por pessoas sem sintomas está acontecendo'.
Por Pedro Henrique Gomes e Luiz Felipe Barbiéri, G1 — Brasília
O presidente Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira (9), na abertura de uma reunião interministerial, que a transmissão do coronavírus por assintomáticos pode ser "zero ou quase zero" e que isso "pode sinalizar uma abertura mais rápida do comércio".
Bolsonaro comentou uma declaração, feita nesta segunda (8), pela chefe do Programa de Emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Maria von Kerkhove. Ela disse que a transmissão por pessoas assintomáticas "parece rara".
Van Kerkhove ressaltou que o estudo sobre a transmissão por pessoas assintomáticas ainda não é conclusivo. Ela lembrou também que há uma diferença entre pessoas assintomáticas e as pré-sintomáticas, que ainda não manifestaram sintomas, mas vão apresentar algum, leve ou grave.
Bolsonaro falou sobre a pandemia logo na abertura da reunião com ministros.
"Foi noticiado ontem [segunda], também de forma não comprovada, como nada
é comprovado na questão do coronavírus. Mas que a transmissão por parte de
assintomáticos é praticamente zero. Então isso vai dar muito debate e muitas
lições serão tomadas", disse.
Em seguida, o presidente afirmou:
"Com toda certeza, isso pode sinalizar uma abertura mais rápida do comércio e a extinção daquelas medidas restritivas adotadas, segundo decisão do STF, adotadas por governadores e prefeitos.”
Esclarecimento da OMS
Pouco depois da declaração de Bolsonaro, a OMS fez nova coletiva de
imprensa, na Suíça, para esclarecer a divulgação da segunda (8).
O diretor de emergências do órgão, Michael Ryan, afirmou estar "absolutamente convencido de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo. Segundo ele, ainda falta descobrir a parcela desse tipo de contágio no total de casos.
"Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto", afirmou Ryan.
Van Kerkhove também voltou a se pronunciar nesta terça-feira e disse que as pesquisas estão em andamento, mas existem evidências de que 40% dos contágios ocorreram a partir de pessoas sem sintomas.
"Alguns modelos estimam que pode ocorrer uma transmissão de 40% devido aos casos assintomáticos, mas não incluem análises anteriores", disse.
Alerta e crítica dos cientistas
A declaração da chefe do programa de emergências foi criticada por
pesquisadores por ter soado ambígua. Entre os críticos esteve o diretor do
Instituto de Saúde Global da Universidade de Harvard, Ashish K. Jha.
O pesquisador da universidade norte-americana argumentou que infectados que não apresentam sintomas são uma forma importante para a transmissão da Covid-19. Ele explicou que apenas 20% dos infectados não desenvolverão nenhum sintoma. Os outros 80% poderão desenvolver sintomas leves ou mais duros da doença.
O doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo, o biólogo Átila Marino, disse que faltou na declaração da OMS ressaltar que a principal fonte de transmissão de Covid-19, no mundo inteiro, são os pré-sintomáticos. Eles transmitem o vírus cerca de 2 dias antes de os sintomas aparecerem.
"O que ficou de fora da declaração que é importante? É que existem pessoas que não têm sintomas e depois manifestam eles, as pré-sintomáticas. Essas são a maior fonte de transmissão da doença. Grande parte dos casos de Covid foram transmitidos nesse período, em que pessoas que vão ter sintomas, mas não apresentavam ainda, tinham o vírus no nariz, no corpo. A transmissão principal no mundo inteiro acontece de 2 a 3 dias pré-sintoma", afirmou.
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