Advogada
Renata Berenguer, de 30 anos, alertou que pessoas de todas as idades podem ter
a doença. 'O que precisa ser feito é o isolamento. É esse gesto de amor', diz.
G1
Roberta
Berenguer contou nas redes sociais sobre o diagnóstico do novo coronavírus —
Foto: Reprodução/rede social
A cada
dia, o boletim da Secretaria de Saúde de Pernambuco traz as confirmações de pessoas
com o novo coronavírus (Sars-Cov-2). Na quarta (26), o estado teve a primeira
morte confirmada e chegou a 46 pessoas com diagnóstico positivo para a
Covid-19, doença causada pelo vírus. Cinco pacientes tiveram cura comprovada.
Entre eles, está a advogada Renata Berenguer, de 30 anos.
Renata
afirmou que o caso dela é a prova de que a doença existe e pode acometer
pessoas de todas as idades. Ela lembrou que a recomendação de isolamento social
precisa ser seguida à risca.
“O que
precisa ser feito é o isolamento. É esse gesto de amor", disse a advogada.
"As
pessoas vão sentir dor de cabeça e outros sintomas achando que não é nada. A
única coisa a fazer é ficar em casa. Só nos resta isso. É uma oportunidade de
refletir como ser diferente, como ser uma pessoa melhor”, defendeu.
Sintomas
Acostumada
a uma rotina de viagens, a advogada acordou com dores na cabeça e no restante
do corpo no começo de março, quando ainda não havia confirmações em Pernambuco
da doença. Achou que era uma virose, comum no pós-carnaval. Tinha curtido a
festa no Rio de Janeiro e no Recife.
Viajou
para um congresso em Fortaleza e depois pra Fernando de Noronha, com um grupo
de 18 pessoas. Foi quando começou a tossir e ter uma leve coriza. Assim como
surgiam, os sintomas desapareciam ao longo do dia. Voltou da ilha para o Recife
e já partiu para Blumenau, em Santa Catarina, numa viagem a trabalho. Tudo isso
num intervalo de oito dias.
A
ficha só começou a cair quando, na volta para a capital pernambucana, notou que
todo mundo só falava do novo coronavírus em São Paulo, onde o avião fez escala.
Muita gente estava usando máscaras na ocasião.
“Quando
pego o avião São Paulo/Recife, tento dormir e sinto uma sensação estranha.
Puxava o ar e não vinha. Já tinha algumas pessoas de máscara, mas não
imaginava. Eu nem sonhava em coronavírus, mas senti algo estranho”, lembrou.
Mesmo
com sintomas leves, assim que soube que tinha entrado em contato com uma pessoa
que esteve na Europa, ela decidiu ir ao hospital, no dia 13 de março. Desta
consulta, partiu para o isolamento domiciliar e aguardou o resultado do exame.
"Vim
diretamente para minha casa e aqui estou até hoje, seguindo um protocolo de
isolamento absoluto que em nenhum momento hesitei de cumprir", afirmou.
Resultado
positivo
A
espera pela ligação da Secretaria de Saúde terminou três dias depois dos
exames, quando recebeu a resposta que o resultado para o novo coronavírus tinha
dado positivo e o governo queria o nome de todas as pessoas com quem ela teve
contato, assim como os locais que tinha passado.
“Os
primeiros dias foram uma das piores partes. Aquela ansiedade de você saber se
tem ou não, conviver com a possibilidade de passar para as pessoas que você
ama. Meu pai tem 70 anos e problemas pulmonares sérios. Meu sobrinho tem meses
[de idade], meus colegas de trabalho e de todos que tive contato. Era um
pavor”, contou.
O
telefone não parou de tocar nos dias seguintes. A notícia se espalhou entre
parentes, amigos e desconhecidos, o que a fez publicar uma nota numa rede
social.
“Minha
vida se transformou. Muita gente entendeu como um ato de coragem, mas também
tinham as coisas ruins. Dizendo que eu treinei em uma academia sabendo que
estava com o corona (sic), mensagens de ódio e várias outras fake news",
lembrou.
A
advogada ficou sempre em isolamento social, sem precisar ser internada. Ainda
assim, disse que a situação é pior que uma gripe comum. "Eu comecei a
sentir os sintomas mais fortes e as limitações respiratórias, [estando] longe
dos meus pais e de quem eu amo. Naquele tempo, eu me perguntava, 'Deus por que
comigo? O que fiz para merecer isso?'”, contou.
A
empresa em que ela trabalha disponibilizou um médico infectologista 24 horas
para acompanhá-la. Renata, que pratica esportes desde pequena e treinava todos
os dias, sentiu o baque de ter que ficar em casa. O medo era um sentimento
constante: medo de uma doença desconhecida, de mostrar fragilidade aos pais, da
reação dos amigos, de que a saúde piorasse.
Assim,
alternou dias bons e ruins, permeados de notícias de mortes em outros países.
Tudo isso se misturava na cabeça da advogada, como uma bomba prestes a
explodir. Não tinha remédio que aliviasse as tensões.
Advogada
Renata Berenguer, de 30 anos, é uma das pacientes com cura comprovada da
Covid-19 — Foto: Arquivo pessoal
No
sábado (21), a Secretaria Estadual de Saúde anunciou duas curas clínicas: a
dela e a de uma adolescente de 16 anos, diagnosticada com a doença após
retornar de uma viagem aos Estados Unidos. Além de Renata e da adolescente,
outras três mulheres estão entre as curadas.
“Estou
muito feliz de ter me recuperado. Hoje, eu olho para trás e digo: ainda bem que
foi comigo, que tenho consciência de que tinha que fazer a minha parte. Tive a
oportunidade de melhorar como pessoa e profissional e de perceber como a fé e o
amor podem alcançar a vida de uma pessoa”, comentou.
Coronavírus
em Pernambuco
Pernambuco
registrou, na quarta-feira (25), a primeira morte de paciente diagnosticado com
o novo coronavírus (Sars-Cov-2). De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde
(SES), a vítima foi um idoso de 85 anos, que estava internado no Hospital
Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no Centro do Recife.
Ele
tinha apresentado os primeiros sintomas da Covid-19 no dia 18 de março e foi
internado no dia 20. Com esse caso, subiu para 48 o número de óbitos no país
(veja vídeo abaixo).
O
governo estadual tem adotado medidas para evitar aglomerações e a propagação do
novo coronavírus no estado. No decreto da segunda-feira (23), foram proibidos
reuniões com mais de 10 pessoas e o transporte por mototáxi. Desde o domingo
(22), o comércio formal foi fechado, seguindo outra determinação.
Outro
decreto definiu diretrizes para filas em terminais de ônibus e orientou que os
coletivos devem seguir, preferencialmente, apenas com passageiros sentados.
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