Diário
do Nordeste
Os
projetos são financiados pelo Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura
Familiar, da SDA FOTO: AÉCIO SANTIAGO
O ano
de 2019 pode terminar como um dos mais quentes da história do planeta. As altas
temperaturas castigam, também, o Ceará. Porém, do Sol que maltrata o
agricultor, é possível desenvolver ideias inovadoras para o consumo
sustentável. Transformando os desafios impostos pela convivência com o
semiárido em oportunidades de fomentar métodos sustentáveis de captação de
energia limpa, produtores familiares estão utilizando tecnologia para
aproveitar o potencial solar.
Em uma
pequena propriedade no Sítio Coruja, no Crato, foram instalados, no início
deste ano, 12 painéis solares. O produtor Francisco Eufrásio, utiliza energia
produzida a partir do Sol, considerada limpa, para abastecer dois tanques de
criação de tilápia, além de fornecer a energia que alimenta sua residência.
"Nossa conta está vindo até com saldo positivo, já que a gente não utiliza
toda a energia aqui no sítio", conta.
Os
painéis conseguem captar cerca de 600 Kw por mês, capacidade mais que
suficiente para atender à demanda da família do produtor. "A gente usa nos
tanques, no congelador, na casa toda. Como nós não temos como gastar tudo, eu
ainda tenho a opção de botar essa energia em uma outra casa", explica
Eufrásio, que arrecada a principal parte da renda mensal da venda de hortaliças
orgânicas na Feira de Produtos da Agricultura Familiar (Fepaf), no Crato.
A
mentalidade sustentável vai além da fonte de energia. Ela se estende para o
resto da produção, já que a água que rega as hortaliças é reutilizada dos
tanques de tilápia.
Problemas
Em
Quixeré, município da região do Jaguaribe, que registrou a maior temperatura do
País em pelo menos quatro ocasiões neste ano, mora Francisco José de Sousa
Lima, conhecido popularmente como Zé de Diquinha. O agricultor foi um dos
pioneiros a trabalhar com energia renovável no âmbito da agricultura familiar
no Ceará. Ele teve a ideia de instalar 20 painéis fotovoltaicos em sua
propriedade, no Sítio Lagoa da Casca.
A
ideia surgiu há cerca de quatro anos, após a apresentação do projeto por
técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce).
A
ideia, que chegou a possibilitar uma economia de R$ 300, porém, acabou se
transformando em "dor de cabeça", segundo ele. "Eu tenho o
medidor, que faz a leitura do que eu gero, e mando essa energia para a Enel,
que teria que me pagar em créditos. Porém, de uns anos para cá, eu não estou
tendo esse retorno. No começo eles estavam me repassando, mas aí parou",
lamenta Zé de Diquinha.
Com
isso, ele conta que não consegue suprir o valor das parcelas do projeto.
"Investi R$ 50 mil, para ser pago em oito anos. Algumas parcelas já
venceram e eu não consigo pagar, não tenho de onde tirar. Para mim, não está
mais compensando por causa desse problema", lamentou, embora reconheça a
importância de utilizar energias limpas. "A nossa região tem Sol o tempo
todo. É uma boa iniciativa, o problema está nesse repasse".
A
reportagem entrou em contato com a Enel Distribuidora, empresa responsável por
fazer o repasse dos valores, mas até o fechamento desta edição, os
questionamentos não foram respondidos.
Incentivo
Marco
Aurelio, secretário executivo do Fundo, aponta que o Ceará tem "grande
potencial" para geração de energia solar. "O Estado possui maior
incidência de luminosidade, propícia para geração dessa energia. Nos últimos
anos, a agricultura familiar vem buscando cada vez mais essa possibilidade, que
hoje é viabilizada pelo Fedaf", aponta o representante. Ao todo, 40
projetos destinados à instalação de Unidades para Geração de Energia Solar
foram aprovados no Ceará em 2019.
O
dinheiro aplicado até novembro deste ano chega a quase R$ 3 milhões, usado para
o financiamento de atividades como agricultura irrigada, geração de Energia
Solar, piscicultura, apicultura, dentre outras. Para os próximos anos, o setor
deve receber um incremento de 240 milhões.
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