Os Três Guardiões: Aos 94 anos, idoso mantém comércio mais antigo de Juazeiro do Norte: 'Acho ruim não fazer nada'

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sábado, 25 de janeiro de 2020

Aos 94 anos, idoso mantém comércio mais antigo de Juazeiro do Norte: 'Acho ruim não fazer nada'

José de Sá Barreto administra a 'Casa Grangeiro' e dirige o carro da casa ao trabalho

G1 

 
Aos 94 anos, José de Sá gerencia o comércio mais antigo de Juazeiro do Norte — Foto: Antonio Rodrigues/SVM

Em 1948, José de Sá Barreto Grangeiro criou a Casa Grangeiro, em Barbalha, sua cidade natal, no interior do Ceará, para vender o que classifica por miudezas. Após 21 anos, abriu uma filial em Juazeiro do Norte, município vizinho, que administra até hoje, aos 94 anos.

Mesmo com idade avançada, sua rotina se mantém há cinco décadas: acordar cedo, enfrentar o trânsito do Centro e administrar sua loja, a mais antiga registrada na Junto Comercial de Juazeiro do Norte. Ele ainda dirige na ida e volta ao trabalho, todos os dias.

"Eu gosto de trabalhar", enfatiza José. Para sua família, mesmo trabalhando na rua comercial mais movimentada da cidade, o trabalho ajuda a manter sua saúde. "Ele se sente muito feliz. Mas também tem que descansar um pouco", pondera seu filho, o engenheiro Afonso Teles Grangeiro, que o convenceu a trabalhar apenas pela manhã. Na loja, vende panelas, louças, ferramentas, brinquedos, e outras utilidades do lar.

José renovou a Carteira Nacional de Habilitação há três anos e mantém o hábito de dirigir, todos os dias, na ida e volta ao trabalho. "Ele conseguiu ler direitinho todas as letras que a médica pediu", garante o engenheiro.

Regulamentado, o comerciante não aceita que ninguém conduza seu carro. Também dispensa câmbio automático e não larga seu modelo Fiat Uno, fabricado em 2010. "Eu gosto de dirigir. Não vou botar ninguém pra dirigir para mim se consigo ainda. Em todo canto eu ando legal, como qualquer um outro", destaca o empresário.

Início com 4 mil cruzeiros
A veia comercial de José começou quando trabalhava nos Correios fazendo o transporte das mercadorias de Juazeiro para Barbalha. Nisso, começou a vender, nas horas vagas, jornais e revistas que chegavam por correspondência. Depois, apostou em acessórios em ouro, como pulseiras, braceletes, pingentes com os nomes dos clientes gravados. O ourives pagava uma comissão. "Juntei muito dinheiro", lembra.

Com a economia de 4 mil cruzeiros, abriu a Casa Grangeiro, em Barbalha, e duas décadas depois a filial, em Juazeiro do Norte. A primeira, fechou as portas apenas no ano passado após seu irmão, que administrava a loja, adoecer aos 88 anos.
"Aqui antes era só capim. Não tinha nada na frente. O Orlando Bezerra passou pra mim, peguei o prédio, ajeitei e paguei", diz José sobre sua chegada a Juazeiro do Norte. Mais de meio século depois, reconhece as transformações que o Centro da cidade passou. "Nenhum colega meu antigo trabalha mais. Todos já morreram", lamenta o comerciante.
Foi com este empreendimento que conseguiu, ao lado de Terezinha Teles Grangeiro, criar e educar seus oito filhos — dois já faleceram —, que lhes deram 16 netos e oito bisnetos. José e Terezinha completam 70 anos de casamento em 2020.

Em mais de 90 anos de vida, José passou por dois momentos que ele considera difíceis. Em 1974, quando sofreu um traumatismo craniano após um acidente doméstico ao cair de uma altura de seis metros, e quase faleceu em decorrência dos ferimentos. Ele passou um mês em coma e mais três meses para recuperar a memória. “O médico disse que foi um milagre”, conta o filho Afonso.

Depois disso, ainda se curou um câncer na garganta, que tirou um pouco da força de sua voz, mas não o seu vigor para trabalhar. "Estou muito bem ainda", indica.

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