G1
Aos 94
anos, José de Sá gerencia o comércio mais antigo de Juazeiro do Norte — Foto:
Antonio Rodrigues/SVM
Em
1948, José de Sá Barreto Grangeiro criou a Casa Grangeiro, em Barbalha, sua
cidade natal, no interior do Ceará, para vender o que classifica por miudezas.
Após 21 anos, abriu uma filial em Juazeiro do Norte, município vizinho, que
administra até hoje, aos 94 anos.
Mesmo
com idade avançada, sua rotina se mantém há cinco décadas: acordar cedo,
enfrentar o trânsito do Centro e administrar sua loja, a mais antiga registrada
na Junto Comercial de Juazeiro do Norte. Ele ainda dirige na ida e volta ao
trabalho, todos os dias.
"Eu
gosto de trabalhar", enfatiza José. Para sua família, mesmo trabalhando na
rua comercial mais movimentada da cidade, o trabalho ajuda a manter sua saúde.
"Ele se sente muito feliz. Mas também tem que descansar um pouco",
pondera seu filho, o engenheiro Afonso Teles Grangeiro, que o convenceu a
trabalhar apenas pela manhã. Na loja, vende panelas, louças, ferramentas,
brinquedos, e outras utilidades do lar.
José
renovou a Carteira Nacional de Habilitação há três anos e mantém o hábito de
dirigir, todos os dias, na ida e volta ao trabalho. "Ele conseguiu ler
direitinho todas as letras que a médica pediu", garante o engenheiro.
Regulamentado,
o comerciante não aceita que ninguém conduza seu carro. Também dispensa câmbio
automático e não larga seu modelo Fiat Uno, fabricado em 2010. "Eu gosto de
dirigir. Não vou botar ninguém pra dirigir para mim se consigo ainda. Em todo
canto eu ando legal, como qualquer um outro", destaca o empresário.
Início
com 4 mil cruzeiros
A veia
comercial de José começou quando trabalhava nos Correios fazendo o transporte
das mercadorias de Juazeiro para Barbalha. Nisso, começou a vender, nas horas
vagas, jornais e revistas que chegavam por correspondência. Depois, apostou em
acessórios em ouro, como pulseiras, braceletes, pingentes com os nomes dos
clientes gravados. O ourives pagava uma comissão. "Juntei muito
dinheiro", lembra.
Com a
economia de 4 mil cruzeiros, abriu a Casa Grangeiro, em Barbalha, e duas
décadas depois a filial, em Juazeiro do Norte. A primeira, fechou as portas
apenas no ano passado após seu irmão, que administrava a loja, adoecer aos 88
anos.
"Aqui
antes era só capim. Não tinha nada na frente. O Orlando Bezerra passou pra mim,
peguei o prédio, ajeitei e paguei", diz José sobre sua chegada a Juazeiro
do Norte. Mais de meio século depois, reconhece as transformações que o Centro
da cidade passou. "Nenhum colega meu antigo trabalha mais. Todos já
morreram", lamenta o comerciante.
Foi
com este empreendimento que conseguiu, ao lado de Terezinha Teles Grangeiro,
criar e educar seus oito filhos — dois já faleceram —, que lhes deram 16 netos
e oito bisnetos. José e Terezinha completam 70 anos de casamento em 2020.
Em
mais de 90 anos de vida, José passou por dois momentos que ele considera
difíceis. Em 1974, quando sofreu um traumatismo craniano após um acidente
doméstico ao cair de uma altura de seis metros, e quase faleceu em decorrência
dos ferimentos. Ele passou um mês em coma e mais três meses para recuperar a
memória. “O médico disse que foi um milagre”, conta o filho Afonso.
Depois disso, ainda se curou um
câncer na garganta, que tirou um pouco da força de sua voz, mas não o seu vigor
para trabalhar. "Estou muito bem ainda", indica.
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