Apesar do problema, as águas seguem sendo levadas ao último reservatório antes de chegar ao território cearense. Os serviços que levarão o recurso hídrico até Jati devem ser concluídos apenas em maio
Por Antonio Rodrigues e Honório Barbosa/Diário do Nordeste
O reservatório de Jati ainda aguarda as águas do
Rio São Francisco para beneficiar os cearenses. O novo prazo dado pelo Governo
Federal é de mais de 45 dias. Porém, segue o risco de mais um atraso / Foto: Antônio Rodrigues
Em dezembro de 2019, o ministro do Desenvolvimento
Regional, Gustavo Canuto, em visita às obras do Projeto de Integração do Rio
São Francisco (Pisf), garantiu que no final do último mês de março as águas do
"Velho Chico" chegariam ao reservatório de Jati, no município
homônimo. "Até dezembro, aqui estará cheio. Daqui, seguirá para Milagres e
levará dois meses para encher. No final de março, ela correrá pelo Cinturão das
Águas do Ceará", detalhou o ministro, no reservatório de Negreiros, em
Salgueiro, estado de Pernambuco. O prazo, outra vez, não foi cumprido, e o
adiamento poderá ser superior a 45 dias.
O atraso decorre de problema que ocorreu na
barragem de Negreiros, localizada no município de Salgueiro, em Pernambuco.
Técnicos, no início deste mês, observaram a passagem de água para o solo, após
fundação de um dique em reservatório auxiliar. Há necessidade de bombeamento do
recurso hídrico para permitir o serviço de conserto na estrutura, após
esvaziamento.
Em nota, a Secretaria Nacional de Segurança Hídrica
(SNSH) confirmou o problema, mas descartou dano estrutural no reservatório de
Negreiros. O sistema de monitoramento registrou, no início do mês, uma passagem
de água - percolação - pela fundação do Dique, que é um barramento auxiliar ao
reservatório em Pernambuco.
Ainda de acordo com a SNSH, uma vistoria técnica
foi realizada na estrutura e, logo após a ocorrência, atestou sua estabilidade,
não havendo riscos à população, aos trabalhadores nem ao patrimônio.
"Desta forma, foi possível retomar o bombeamento na estação EBI-3 em 4 de
abril. As águas do Projeto São Francisco já estão passando para o reservatório
de Milagres (reservatório em Pernambuco)".
O engenheiro Emanoel Carvalho pondera que, sem
fotos e dados técnicos, é difícil saber se este problema pode causar
preocupação. No entanto, explica que as barragens têm instrumentação de
monitoramento. "Se estão dizendo que não tem risco, é porque os monitoramentos
não apresentaram alteração". Com relação ao percolamento pela fundação, é
uma situação que pode ser grave, mas dependendo dos dados, o risco pode ser
controlado. "É como se estivesse vazando por baixo. Dependendo do nível de
saturação, pode ocorrer 'piping' que gere colapso na estrutura", completa.
O MDR prevê prazo de 45 dias para a execução dos
reparos - intervenção que será planejada de acordo com o cronograma de
enchimento dos reservatórios do Eixo Norte. "Considerando a estabilidade
da estrutura, o bombeamento segue 24 horas por dia. Equipes técnicas realizam o
monitoramento em tempo integral - conforme a previsão para empreendimentos com
esse porte", informa.
Nossa equipe de reportagem esteve, na última
quinta-feira (23), na barragem de Negreiros, em Salgueiro, e constatou que o
volume da água armazenada diminuiu. Segundo um funcionário, que pediu para não
se identificar, o nível que estava próximo da capacidade máxima do reservatório
foi reduzido por segurança, para serem realizados os reparos. Mesmo assim, como
garantiu o MDR, o recurso hídrico segue sendo transportado para a barragem
Milagres, em Verdejante, em Pernambuco, última grande estrutura antes de chegar
ao Estado do Ceará. Lá, ultrapassa a metade do percurso.
Esta é a segunda vez que o problema ocorre na
barragem de Negreiros. Em 16 de agosto de 2018, engenheiros detectaram
vazamento no reservatório. O risco de rompimento da estrutura, construída entre
os anos de 2013 e 2015, assustou 35 famílias da Vila Produtiva Rural próxima,
que foram retiradas por segurança. O reservatório recebeu serviços em 24 horas,
incluindo injeções de cimento e argamassa, melhor solução encontrada por
especialistas em barragens.
Atraso
Grande preocupação segue em relação aos serviços
complementares, que vão levar a água da barragem de Milagres, ainda em solo
pernambucano, até Jati, no Ceará. Em dezembro, o MDR calculava um avanço físico
do Eixo Norte de 97,35%. De lá para cá, pouco mudou e, hoje, alcança 97,44%. Os
serviços não pararam, mesmo durante a pandemia. São 1.415 trabalhadores,
segundo o MDR. "Não houve redução nas frentes de serviço em razão da
Covid-19", enfatizou em nota.
No território cearense, constatamos que o número de
trabalhadores ainda é grande. Os serviços se concentram entre os reservatórios
de Milagres e Jati. De acordo com o MDR, restam 400 metros de obras
operacionais, de um total de 260 quilômetros. Das duas pontes sobre a BR-116,
entre Jati e Penaforte, apenas uma foi concluída. O Ministério ainda confirmou
que as chuvas registradas nas primeiras semanas de abril afetaram os serviços
restantes, que deverão ser finalizados apenas em maio.
O secretário Executivo da Secretaria de Recursos
Hídricos (SRH), Aderilo Alcântara, estima um prazo maior para a transferência
de água para o Ceará. "As informações iniciais que recebemos nos indicavam
atraso na transferência de água para o Ceará de três a quatro meses",
observou. Por ser uma obra federal e o problema ter se verificado em
Pernambuco, Alcântara preferiu não comentar o ocorrido.
O mesmo comportamento assumiu o diretor de Águas
Superficiais da Superintendência de Obras Hídricas (Sohidra), Antônio Madeiro
Lucena. "Vou evitar falar sobre o problema ocorrido em Negreiros",
frisou. Lucena, entretanto, confirmou que havia a expectativa de chegada da
água do Velho Chico ao Ceará para março passado. "Seria um período muito
favorável, porque as calhas de riachos e do Rio Salgado estariam cheias,
favorecendo o escoamento da água até o açude Castanhão", lamentou.
Cinturão das Águas
No lote 1 do Cinturão das Águas (CAC), quilômetro
11, no município de Jati, Cariri cearense, algumas placas de concreto se
deslocaram na seção do canal no início deste mês. O problema foi confirmado
pela Sohidra e decorreu do tipo de solo e de infiltração de água de chuvas
intensas na região. "Já iniciamos as medidas corretivas. Porém, as
precipitações pluviométricas na região estão intensas e retornaremos logo que
seja cessado o período chuvoso no perímetro da obra", esclarece Antônio
Madeiro Lucena. "Foram apenas duas ou três placas que cederam. Um problema
insignificante para uma obra complexa e da dimensão de mais de 48 km de canais
e túneis", completou.
Ao todo, o Trecho 1 do CAC tem 64,26% de suas obras
realizadas. O lote 1 está com 95,94% de avanço físico e o 2 tem 96,25% dos
serviços concluídos. O chamado 'eixo emergencial' do CAC, que vai receber as
águas do rio São Francisco até o Riacho Seco, em Missão Velha, e daí por leito
natural até o rio Salgado, inclui os lotes 1, 2 e 5 e está com 98% de suas
obras realizadas. Já o lote 5 do Cinturão das Águas está finalizado.
Infiltração em barragem de Milagres, em Pernambuco,
atrasa chegada da água do Rio São Francisco ao Ceará. Governo Federal diz que
precisará de mais 45 dias para entrega
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