O presidente procura atrair para sua base de apoio
os líderes partidários encalacrados com denúncias de corrupção na Justiça,
inaugurando uma nova fase do seu governo: a aliança com os partidos mais
comprometidos com malfeitos na história recente do País
Crédito: Mateus Bonomi; Kleyton Amorim/UOL/; EVARISTO
SA / AFP; Lula Marques/;Suamy Beydoun/AGIF; Pedro Ladeira
Germano de Oliveira
Em 1988, durante o governo Sarney, ganhou força um
personagem que inaugurou o toma lá dá cá na política brasileira: o falecido
deputado Roberto Cardoso Alves, líder do Centrão na Câmara naquela ocasião. Ele
se imortalizou ao apropriar-se de um trecho de uma oração de São Francisco de
Assis: “é dando que se recebe”. Ou seja, os parlamentares dão apoio ao governo
e recebem em troca cargos e benesses. Robertão, como era conhecido, pertencia
ao fisiológico PTB e deixava transparente, seus métodos de atuação: trocava
votos na Câmara por toda espécie de favores. Virou ministro da Indústria e
Comércio de Sarney e, em contrapartida, ajudou o então presidente a evitar que
seu governo fosse removido, já que nos últimos meses de seu mandato houve
hiperinflação de mais de 90% e só não caiu porque sua base parlamentar, apoiada
pelo Centrão, não permitiu. Agora, essas estratégias estão sendo postas em
prática pelo novo Centrão, liderado, entre outros, por Roberto Jefferson,
também líder petebista como Robertão e que, desde Collor de Mello, é um dos
maiores adesistas de governos em troca de cargos e verbas públicas. Jefferson
foi da tropa de choque de Collor, mas não conseguiu impedir que o então
presidente sofresse o impeachment em 1992.
Depois, aderiu a Lula, recebendo R$ 4 milhões em
troca, e conseguiu dar maioria ao PT no Congresso. Foi preso, inclusive, como
um dos principais envolvidos no mensalão petista. Mostra, porém, que não
aprendeu nada na cadeia. Agora, está oferecendo a Bolsonaro os votos dos 12
deputados petebistas na Câmara e, em troca, pode levar o Ministério do
Trabalho, a ser recriado. Até recentemente, Jefferson era vilipendiado pelo
bolsonarismo, que rechaçava a velha política por ele representada. Mas o
capitão mudou radicalmente de ideia, sobretudo porque deseja, desesperadamente,
ter maioria na Câmara para evitar o impeachment.
A nova tropa de choque de Bolsonaro na Câmara,
porém, não se limita ao PTB de Jefferson. O presidente está procurando os
líderes do PP, Republicanos, PL, PSD e Solidariedade, que têm em torno de 200
parlamentares, para construir sua base no Congresso, depois que o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mostrou que não se submeterá aos desmandos do
mandatário e acabou encaminhando votações desfavoráveis ao governo, como a
ajuda aos Estados. Graças a isso, Maia foi vítima de uma onda sem precedentes de
ataques do “gabinete do ódio”, comandado por Carlos Bolsonaro. Se bem que há
dezenas de deputados do DEM de Maia ávidos por novas boquinhas no governo. Na
negociata com o Centrão, Bolsonaro oferece cargos em estatais e até
ministérios. Ao presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, investigado por
corrupção, Bolsonaro chegou a oferecer o Ministério da Ciência, Tecnologia e
Comunicações, ocupado pelo astronauta Marcos Pontes. O PSD é um dos partidos
que o bolsonarismo mais deseja atrair, pois tem 37 deputados e 11 senadores, a
segunda maior bancada no Senado. Ao colocar apadrinhados de Kassab em seu
governo, Bolsonaro dá ainda uma estocada no governador João Doria (PSDB), já
que o tucano tirou o presidente nacional do PSD de seu governo em São Paulo
logo que ele foi denunciado à Justiça por corrupção. Dessa forma, Kassab dá o
troco em Doria, hoje o pior inimigo de Bolsonaro.
Acusados de corrupção
Mas entre todos os novos aliados de Bolsonaro, um
dos mais nocivos representantes da velha política agora atraídos está Valdemar
da Costa Neto, líder do PL, que tem no balcão de negócios 39 parlamentares a
oferecer ao governo. Também condenado a sete anos de prisão no caso do mensalão
do PT, por ter recebido R$ 8,8 milhões em propinas, Costa Neto deve levar a presidência
do Banco do Nordeste e a direção do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transporte (Dnit), exatamente o órgão do Ministério dos Transportes do governo
petista que “Boy”, como é conhecido, dilapidou. Outro acusado de corrupção, o
deputado Marcos Pereira (Republicanos), que comanda 31 deputados, deve ser
contemplado com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e
Parnaíba (Codevasf). Pastor da Universal, ele é investigado no STF por receber
propinas da Odebrecht (R$ 7 milhões) e da JBS (R$ 6 milhões).
Arthur Lira (PP-AL), investigado pelo STF por
receber R$ 106 mil em propinas para manter o presidente da Companhia Brasileira
de Trens Urbanos (CBTU) no posto em 2012, vai ganhar cargos no Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e no Departamento Nacional de Obras
Contra as Secas (Dnocs). Paulinho da Força, que negocia em nome de 14 deputados
do Solidariedade, é investigado por receber R$ 1,8 milhão em propinas da
Odebrecht e lhe foi oferecido o Porto de Santos, conhecido antro de corrupção.
Todos esses políticos, contudo, reclamam que Bolsonaro está demorando a
concretizar as promessas. Mas, como agora o mandatário está acossado por quase
30 pedidos de impeachment, que se avolumam na mesa de Maia – além de duas investigações
no STF que podem levar seu mandato a naufragrar -, é possível que o capitão
corra para cumprir os compromissos selados com os discípulos de São Francisco.
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