Diferente do restante do Ceará, onde a quadra chuvosa acontece de fevereiro a maio, no Sul do Estado, a água cai do céu com mais intensidade de janeiro a abril o que gera otimismo aos produtores. Eles apontam boa safra em 2020
Por Antonio Rodrigues
Os bons resultados no campo devem-se ao volume generoso de chuva
registrado entre os meses de janeiro a abril no Cariri - FOTO: ANTONIO RODRIGUES
Assim como a quadra chuvosa começa mais cedo na região do Cariri, já que
as maiores precipitações se concentram entre janeiro a abril — enquanto no
restante do Ceará é de fevereiro a maio — a tão esperada colheita também tem
início antecipado. Ao contrário do ano passado, que Juazeiro do Norte registrou
perda entre 65% a 70% da produção de milho e feijão, desta vez a safra se
mostra positiva. A projeção dos produtores é de colheita 80% superior ao índice
registrado no ano de 2019 (1.266 t ).
“Está uma fartura, graças a Deus”, comemora a agricultora Rosa Ferreira
da Silva, enquanto coloca o feijão no fogo. Seu marido, o também agricultor
Francisco Cardoso da Silva, do Sítio Sabiá, não esconde o sorriso ao “apanhar”
seu feijão. “O inverno desse ano é uma bênção”, enfatiza. O inverno, a que se
refere, é o termo que o sertanejo usualmente chama o período correspondente da
quadra chuvosa.
Bons volumes
O cenário é mesmo otimista. Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia
e Recursos Hídricos (Funceme), de janeiro até agora, na macrorregião do Cariri,
o acúmulo das chuvas foi de 873,2 milímetros, isso representa 24,7% acima do
observado médio para este período: 700,3 mm. Com cerca de seis hectares de roça
plantados por ano, Francisco planta milho, feijão, gergelim, jerimum, palma,
mamão, entre outros. A maior parte do que colhe serve para alimentação de sua
casa e das famílias de seus quatro filhos. Todos moram próximos. Outra parte
também vai para a nutrição dos animais. Já o excedente, é vendido na comunidade
e em cooperativas. Por mês, apura entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil. “O inverno deste
ano está com uns 15 aos que não vejo. Cheguei em Juazeiro em 2010 e de lá pra
cá não tinha visto”, garante o agricultor, que deixou Aurora para morar na
terra do Padre Cícero.
O agricultor Francisco Humberto dos Santos, do Sítio Carás do Umari,
também em Juazeiro do Norte, é um dos que já veem o resultado do seu esforço e
o do auxílio técnico através de uma boa colheita. “Estou plantando e colhendo.
Só Deus para dar um inverno maravilhoso assim para nós", celebrou o
produtor.
O engenheiro agrônomo Eduardo Abreu, da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento de Juazeiro do Norte (Seagri), explica que a média de grãos
colhidos por hectare no município é de três mil quilos de milho e 800 de
feijão. Ano passado, houve uma perda de até 70% da safra, pois, segundo ele, os
agricultores plantaram cedo. “Houve um veranico em fevereiro que prejudicou a
colheita”, justifica. “Este ano, a expectativa é dentro desta média, já que
teve um bom inverno e o pessoal foi orientado a ser mais cauteloso. Eles
esperaram mais tempo para plantar”, completa.
Para os agricultores, a falta de chuvas no início do ano foi
determinante para baixa colheita em 2019. “Faltou chuva”, corrobora Francisco,
que acredita ter tido uma perda de 80% do feijão e entre 30% a 40% de milho, em
2019. Este ano, sua roça foi plantada no mês de fevereiro, sob orientações dos
técnicos da Seagri. “Em 70 dias já tem milho maduro. Mas o melhor ainda vai ser
pra junho e julho”, antecipa otimista.
Pandemia
As vendas de legumes têm sido afetadas por conta da pandemia da
Covid-19. Por causa disso, a Seagri tem orientado os trabalhadores rurais a
venderem seus produtos para fornecedores de mercados e feiras. “Houve uma
diminuição do próprio consumo”, admite Eduardo. Outra alternativa são as
cooperativas, que estão adquirindo parte desta safra e repassando para os
comerciantes darem vazão.
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