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Foto:Divulgação |
Em
recente pesquisa do Instituto Travessia – SP, encomendada e publicada
originalmente pelo jornal Valor Econômico, aponta-se que 73% dos eleitores
entrevistados manifestam a intenção de votar em um candidato a vereador que
esteja fora da política e dos nomes que circulam nos grupos tradicionais das
cidades. Isso indica uma grande possibilidade de renovação nos legislativos
municipais, que, a depender do desenrolar dos fatos nos próximos meses, pode se
concretizar, ou não.
A
política, mesmo nos municípios interioranos de pequeno e médio porte, deixou de
há muito de ser uma atividade amadorística e passou a demandar um grau mínimo
de profissionalização, principalmente no cenário dos últimos 4 anos, com o
advento e consolidação da ‘vídeo-política’ de que trata o cientista político
italiano Giovane Sartori, extremamente potencializada pelas redes sociais e
pela novíssima ‘política on-line’.
O que
a pesquisa indica é que há chances reais de êxito para os novos nomes da
política, ou seja, para aqueles que participam da vida orgânica de partidos,
movimentos sociais ou estudantis, grupos de jovens, associações de comunidades
etc., mas nunca exerceram cargo público eletivo ou se candidataram a nada, bem
como para os outsiders, que são aquelas pessoas que também não tem experiência
na política, mas, diferentemente dos primeiros, se apresentam a população com
um discurso antipolítica e/ou antissistema. É bastante provável que no pleito
de outubro haja um número recorde de candidatos com um desses perfis, mas nem
todos terão desempenho proporcional as suas empolgações e expectavas nas urnas.
Por quê?
Um dos
principais motivos da decepção dos novatos com a votação está geralmente
relacionada a ausência de um planejamento estratégico de campanha, já que, como
dito no mote central dessa coluna, o voluntarismo é carismático, romântico e
socialmente importante, mas insuficiente e isoladamente ineficaz na dura
realidade das disputas eleitorais. Com a abundância de postulantes a vereança,
a escassez de financiamento e a fortíssima concorrência dos chamados candidatos
de mandato, que são os vereadores já eleitos, que contam com equipes montadas,
estrutura de campanha e áreas de atuação já carimbadas, a chance dos novatos
está diretamente relacionada a organização estratégica dos seus discursos e da
dinâmica das suas pré-campanhas e campanhas.
Os
postulantes a um primeiro mandato nas Câmaras de Vereadores devem pensar
estrategicamente, definindo com clareza as suas bandeiras, público-alvo, áreas
de atuação e o núcleo do seu grupo de apoio, já que dificilmente os eleitores
votam em candidatos sem causa ou em candidatos de si mesmo (todo candidato é
candidato de um grupo, de uma causa). É comum que candidatos a vereadores façam
campanhas com discurso de candidato a prefeito, isto é, abordando questões
genéricas e propondo soluções para todos os problemas da cidade. Essa
estratégia tende a ser ineficaz.
Nessa
era das redes sociais podem ocorrer erros estratégicos distintos em relação a
elas: negar a sua importância ou, ao contrário, supervalorizar a sua
importância. Nas cidades interioranas, principalmente, as redes sociais tem um
limite de eficácia nas campanhas, dada a dinâmica das visitas, do aperto de mão
e do abraço ainda muito significativos na definição do voto do eleitor (sem
contar com o voto de estrutura, assunto que será tratado isoladamente em outra
oportunidade). Não dá para descuidar das redes sociais, não manter contas e
perfis atualizados e interessantes, mas somente isso não garante o voto. Ainda
nessa questão é importante pontuar que mesmo campanhas promissoras, com volume
de apoios e financiamento eleitoral que apontam para uma possível vitória podem
ser desmontadas por erros estratégicos na propaganda ou na estratégia de
atuação. A prática de condutas vedadas e de crimes eleitorais, seja na campanha
física ou na on-line, podem inviabilizar a vitória ou mesmo o exercício de um
eventual mandato.
A
finalidade de um planejamento estratégico eleitoral profissionalizado é
justamente o de organizar as campanhas, os discursos e os grupos de apoio, bem
como o de garantir a formação política, jurídica e marketeira para que a
candidatura seja efetivamente competitiva. Novos postulantes tendem a precisar
mais desse planejamento, mas, ao fim e ao cabo, ele é indispensável para todos
os concorrentes, pois um outro erro comum nas disputas diz respeito a avaliação
equivocada de acreditar que já estar em um mandato garante automaticamente a
sua renovação nas eleições seguintes. O cenário político mudou muito nos
últimos 4 anos e não necessariamente a estratégia exitosa em 2016 será
novamente vitoriosa em 2020. Quem errará menos, os novatos ou os políticos
tradicionais, com ou sem mandato?
Esse é
o ponto crucial: a disputa começou, já está aberta a temporada de pré-campanha
e quem ainda não tem um plano estrategicamente definido, ainda não se
apresentou a sociedade com a sua biografia e propostas, precisa fazê-lo
urgentemente, se quiser ser um competidor real e não apenas mais um na disputa.
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