Por
Kilvia Muniz, G1 CE
Alunos
de 3 anos de idade a adolescentes de 15 anos são as vítimas dos abusos que
aconteceram duas vezes em 2017, uma em 2018 e seis em 2019 — Foto: Kilvia
Muniz/SVM
O Conselho Tutelar de Sobral, município referência em educação no país, a 230 quilômetros de Fortaleza, recebeu, nos últimos três anos, nove denúncias envolvendo violência sexual contra crianças e adolescentes dentro de unidades escolares do município. Os abusos acometeram alunos de 3 anos de idade a adolescentes de 15 anos e aconteceram duas vezes em 2017, uma em 2018 e seis em 2019.
Os
casos envolvem desde crimes com violência física a assédios sexuais através de
mensagens, toques e tentativas de forçar contato físico. De acordo com as
denúncias, os suspeitos são um zelador de uma creche, sete professores e uma
professora. Segundo a Secretaria da Educação de Sobral, os funcionários foram
afastados. Parte das ocorrências já foi denunciada pelo Ministério Público à
Justiça e as demais são investigadas pela polícia. Até agora, ninguém foi preso.
Um dos
últimos casos registrados é de um menino que, na época, tinha nove anos. Ele
começou a apresentar, desde o final de 2018, dificuldade de controlar as
necessidades fisiológicas e passou a sujar as roupas. No começo, a avó, de 63
anos, que tem a guarda da criança, não entendia. “Eu confesso que batia nele,
reclamando, para ele se educar. Ele dizia pra mim que não dava tempo chegar no
banheiro”.
Além
disso, a criança mudou de comportamento. “Ele não ‘tava’ mais querendo comer,
ficava triste pelos cantos”, relata a idosa. Depois de insistir, em julho, a
avó conseguiu que o neto denunciasse o que estava acontecendo. “Ele contou que
o professor, quando terminava as aulas, dizia ‘não vai não, vou te ensinar,
porque tu tá muito atrasado'”. Mas durante as supostas aulas de reforço,
estuprava o menino.
“Ele
relatava pra mim que praticava sexo com ele”, afirma a avó. Os estupros vinham
acontecendo há meses, mas a criança não tinha coragem de denunciar porque
sofria ameaças do professor que usava, inclusive, arma de fogo. O homem também
utilizava uma insígnia do conselho tutelar e dizia ao menino que, caso ele
contasse sobre o crime, “ia tomar a guarda” da avó. A criança vive com a idosa
porque a mãe está em situação de rua e é dependente química, e o pai está
preso.
A
família denunciou o caso ao Conselho Tutelar, em agosto e, de lá pra cá, a
criança já foi submetida a diversos exames físicos. De acordo com o conselheiro
Sândalo Augusto, que acompanha o caso, os peritos da Coordenadoria de Medicina
Legal (Comel) não conseguiram confirmar se houve violência física.
No
início do mês, a criança realizou um novo exame e a família ainda não recebeu o
resultado. “Na minha concepção, ele precisa de um acompanhamento não só
clínico, mas também, psicológico”, afirma Sândalo. O menino está sendo tratado
no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), de Sobral.
De
acordo com Herbert Lima, secretário de Educação de Sobral, foram seguidos todos
os procedimentos previstos em lei para o caso. Como o professor é funcionário
efetivo do município, foi afastado durante 60 dias, período previsto no
Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Passado esse prazo, ele se
reapresentou à prefeitura, mas vai continuar afastado. O secretário explica que
ele “apresentou laudo médico de afastamento. Segundo ele, por estar sofrendo
acusações indevidas, tem sofrido também um processo de depressão e solicitou,
junto ao INSS, um afastamento pra tratamento de saúde”.
Atualmente,
o processo tramita na segunda vara criminal de Sobral. O inquérito foi enviado
à Justiça com pedido de extensão de prazo. O Ministério Público aguarda o fim
das investigações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.